segunda-feira, 31 de março de 2008

Projecto Lázaro

Hoje, regressei da Faculdade com uma proposta irrecusável: nem mais nem menos que a minha ressurreição como investigador. Frisei bem que só me poderia comprometer dentro dos apertados limites do meu ganha-pão (os quais, presentemente ainda se tornaram mais apertados devido à restruturação em curso). Mesmo assim aceitaram, o que representa um tremendo voto de confiança. O objecto da minha pequena investigação é, por si só, irrecusável (mais adiante falarei sobre o assunto, agora não) e o estímulo bem vindo como um raio de sol na desolação intelectual que é o meu ganha-pão actual.
Sinto-me feliz e vagamente inquieto ao mesmo tempo.
É quase como ter uma namorada nova.

Breaking News!

Acabei de saber por um mail enviado pela minha amiga M. que ela está de partida para Luanda, esse mítico sítio do génio luso-tropical. Já lhe pedi fotos para comentar aqui na Cabine, claro. Espero ansiosamente pelas mesmas: malhar na mania mitómana que os portugueses têm de Africa em geral e de Angola em particular é um dos meus desportos favoritos. De resto, para que o leitor perceba desde já o que quero dizer com estas palavras revelo, na integra, o mail que lhe enviei:

from: "zoompt"
to: "M"
Date: Mon, Mar 31, 2008 at 12:09 AM
subjetc: Re: Outra vez out

Angola?!
O país do Zédú?! Mas Angola é um faroeste de traficantes, «empresários» e mercenários de passado incógnito!

ENVIA-ME, POR FAVOR, FOTOS DESSE SÍTIO ESQUECIDO POR DEUS!

Sempre me fascinou Luanda, não pelas bacocas razões do resto da portuguesada mas porque me parece ser uma espécie de zoológico humano!
Preciso de fotos da vida em Luanda para pôr no meu blog. Serão uma preciosa adição. Uma cornucópia de comentários sobre os últimos dias do Planeta Terra.

Toma cuidado contigo. Uma mulher branca é uma mercadoria muito preciosa nesse sítio, ao que parece. Evita a nossa embaixada e o Futungo de Belas: em ambos os sítios pululam intriguistas. Não saias à noite. Não saias de dia sem ser acompanhada por escoltas sul-africanos (sabes a que sul-africanos me refiro): os nativos têm um medo supersticioso deles. Quando o asfalto acaba, começa a Africa negra, lembra-te. Frequenta apenas sítios com mármore e ar-condicionado. Nem as igrejas são seguras: zumbem de espiões.

Bjs e boa sorte
Zoompt

PS: Enche-te de dinheiro: ouvi dizer que aí ele salta a rodos do chão e cai das janelas com abandono. Por alguma razão Luanda é a cidade mais cara do mundo. Não aceites pagamentos em dolares americanos. Não bebas água das torneiras nem de garrafas de água mineral. Toma Gin: os ingleses comandaram um império bebendo apenas Blue Saphir e Gordon's.


domingo, 30 de março de 2008

Plácidos Domingos

Finalmente consegui dar início ao safari fotográfico às Ordens religiosas. Como não disponho de muito tempo para fazer as coisas bem feitas decidi concentra-me numa única Ordem: a do Sr. representado no ícone. Se houver tempo para mais, logo se verá.
Perdi, claro, o Sábado inteiro a trabalhar no Ganha-pão pois as horas extraordinárias de ontem são necessárias à carteira embora danosas ao espírito e ao corpo. Além disso, como depois vim a descobrir, ao Domingo, os religiosos têm o pico da sua actividade (du-uh) e portanto não me poderam receber. Consegui apenas fotografar o exterior dos conventos e anotar nºs de telemóveis de alguns monges para combinar a minha próxima ida a fim de fotografar os interiores e falar um pouco sobre os edifícios. Fica a coisa semi-adiada; o tempo é uma mercadoria escassa.

Felizmente os dois conventos são ao pé de minha casa! Um novo e pós-moderno; o outro antigo, nacionalizado em 1832 e 1910, transformado em quartel, e depois num dos estabelecimentos de ensino do Exército. Actualmente, parte do antigo convento voltou a ser gerido, numa espécie de time-sharing, com uma das família feminina da Ordem, a qual se ocupa de crianças de rua.
Ambas as visitas aguçaram-me a curiosidade: parece-me que à sua maneira cada uma irá enriquecer a Cabine com comentários sobre arquitectura e o que faz uma Ordem religiosa Católica no mundo actual, devasso e hedonista.
Se calhar muito, como disse Yeats:

[When] the best lack all conviction, while the worst are full of passionate intensity. Surely some revelation is at hand... (excerto de The Second Coming).

***

Falta ainda ir ter com a S. à Faculdade (vou voltar a esse sítio de treva e vício! O que irei encontrar?) para lhe entregar o CD-Rom com as fotos que consegui tirar e perceber como querem que faça as legendas. No Sábado voltarei ao Convento antigo para tirar as fotos ao interior, afinal a parte mais interessante e vou ver se ainda consigo ir ao Novo esta semana. No próximo domingo já conto ter as fotos da Igreja de... também e poderei dar o assunto encerrado, portanto, de hoje a uma semana.
Claro que com este santo safari fotográfico a minha participação na Gloriosa obra do proletariado lá no meu trabalho irá naturalmente ser adiada e eu vou perder um sábado inteiro de horas extraordinárias.
Mas estou certo, como o monge do "Nome da Rosa" asseverava aos camponeses que lhe iam entregar a respectiva parte das colheitas, que

Aquilo que deres na Terra ao Céu, no Céu receberás a centuplicar!

Haja fé!

sábado, 29 de março de 2008

Acontece todos os dias neste planeta nº1

Gill Bowden, 81 anos, mãe do embaixador de Sua Majestade britância no Bahrain, Jamie Bowden, desceu em rappel um dos edifícios de Manama, capital do Bahrain, no passado dia 28 de Março, ontem portanto. A radical descida decorreu durante uma festa de caridade. REUTERS/Hamad I Mohammed (BAHRAIN)


Um valente aplauso para a senhora!

Porque hoje é Sábado

Porque hoje é Sábado vim trabalhar.
É necessário purgar o sistema informático de Ordens de Serviço pendentes de programação e outros pecados contra-revolucionários. Os camaradas do Soviet Supremo cá da casa começaram o processo de implementação da nova aplicação comercial.
Ao longo do mês de Abril sucessivos passos levar-nos-ão, assim nos prometem, da obscuridade da actual aplicação, ainda marcada por uma superestrutura burguesa, para o amanhecer socialista da nova. Este "Grande salto em frente" fundirá as bases de dados dispersas numa única, benfazeja e omnisciente entidade que irá servir os trabalhadores da casa e as classes populares.

Reprimamos pensamentos contra-revolucionários como, por exemplo, ousar pensar no que acontecerá quando se verificar que existem Ordens de Serviço, provenientes de bases de dados diferentes, mas com o mesmo número. Nós, trabalhadores das Comerciais, sabemos desde sempre deste pequeno segredinho burguês, reconheço com vergonha. Mas e os camaradas do Soviet Supremo?
Em relação ao dia 18 de Abril, a noção de que termos de fazer tudo em papel deixa-me com os cabelos (da nuca) em pé. Como reagirá a classe trabalhadora? E as massas populares? Como reagir perante aqueles que vindos uma segunda vez e ainda na véspera suspeitos de vários crimes pequeno-burgueses, serão agora livres para afirmar o que bem entenderem perante o vazio informático? Não tentarão eles actos contra-revolucionários? Será necessário, na véspera, assentar tudo em papeis? E se não vierem na véspera mas dois ou três dias antes?
Antigamente, nos tempos da sociedade feudal, asseguram os meus colegas mais velhos, existia um arquivo manual com os dados dos servos e dos nobres. Mas o dia 18 de Abril será um salto no vazio.
Suspeito, porém, que o "Grande salto em frente" não se deterá por pormenores como este.
A Revolução no sítio onde trabalho é uma omelete.
Será necessário partir tantos ovos quanto os necessários para que ela triunfe.


quinta-feira, 27 de março de 2008

Betting against the American dream nº5

Já cá canta mais uma. Desta vez não foi no sítio do costume. Na quinta-feira passada passei por lá mas o preço da dita ainda não tinha descido: continuava nos 660 Euro. Isto depois da queda do Ouro para 600 Euro em Londres! Como sei que eles deixam sempre uma diferença de 40 Euros de lucro entre o spot price e o que se vê na montra, mandei-os dar uma curva. Ruminando frustações, deambulei pela Baixa até embater num sítio incrivel, uma velha loja de numismática e venda de prata. Como também pretendo investir na Kissing cousine do ouro - nasceu em mim a ideia de ver se tinham American eagles ou Buffalos. Talvez até tivessem o que me tinha levado à Baixa.
O sítio merece descrição: formigando por incontáveis prateleiras de vidro, estantes e recantos viam-se moedas antigas e recentes do planeta inteiro. Havia também fotografias a preto-e-branco com imagens antigas e uma extraordinária colecção de fotos de pretéritas equipas do Sporting (bem como de equipas estrangeiras de futebol).
Dir-se-ia ter aterrado em 1935.
Então, no interior deste depósito de coisas velhas vi o vendedor, o qual, lia entretido o jornal na pose sentada de quem, pareceu-me durante um fugaz segundo, se alivia na sanita de casa.
Afinal era um banquinho minusculo que o apoiava. Levantou-se.
"Boa tarde. Tem Kruggerrands?" disse, procurando dar aos meus lábios o melhor som afrikander que ouvi no ficheiro sonoro da Wikipedia.
"Anh?" disse este abrindo muito os olhos.
Claro. Lá conseguiu perceber depois o que eu desejava. Mas não vendia ouro, só prata. Disse-lhe que apenas estava interessado na prata propriamente dita e não em numismática. Ele sorriu e disse-me ter bullion coins americanas e mexicanas, usou mesmo a expressão em inglês. Afinal era apenas um pouco surdo.
Quando eu me preparava para pedir para ver algumas ele disse-me que podia-me arranjar um Kruggerrand. Contou-me então ter oferecido uma ao filho, há dois ou três anos, mas que ele «não queria saber» e que lhe estava sempre a pedir para a vender».
"Trabalha num banco, sabe".
"Pois." Eu estava ver o filme todo: "o ouro é uma relíquia para velhos tontos e sovinas". "O que está a dar é crédito, crédito, crédito". "Faça um PPR que é ao mesmo tempo um cartão de crédito" (Este produto é fantástico. clicar aqui para ver esta aberração de usura. E feita pelo Banco do Estado. É ignóbil!).
"Vendo-a por 625 Euro". disse de repente.
Fiquei perplexo.
O diabinho Judaico no meu ombro esquerdo berrou-me: «aproveita! aproveita! Ele não sabe a cotação diária do ouro! Ele deve dar crédito ao Manual de numismática dos tótós do Banco de Portugal" (para quem não sabe este manual é para o moderno comercio de metais preciosos o que o Borda d'agua é para a Meteorologia). Aceitei imediatamente.
Vi-o então, ao manual! Era mesmo verdade. Do meio dos seus milhentos papeis lá veio o tal manual de numismática do Banco de Portugal. Quase tive uma erecção.
"Hum! Hum!" grunhiu. "Aqui diz que o Kruggerrand vale 750 Euros na Venda".
"Palhaços" ri para mim próprio. E disse-lhe "Olhe que ali na [sítio do costume] um Kruggerrand são 660 Euro." Especulei depois: "É que esse Manual olha para as moedas de um ponto de vista numismático. Possivelmente esse valor é o da versão "Proof" dos Kruggerrands.
O homem pousou os óculos e olhou-me por instantes.
"Meu caro senhor: eu propus-lhe um preço de venda de 625 Euro e como sou um homem de palavra, mantenho-a. Acabou de fazer um excelente negócio".
Senti-me um porco capitalista. Note-se que nesse preciso momento, em Londres, vendia-se 1 onça de ouro a 603 Euro. Estava possivelmente a comprar ao preço que os grandes retalhistas compram (com efeito, verifiquei depois, a Kitco.com a essa hora: estava a vender a mesma moeda a 620 Euro - fora despesas de envio do correio!). Oinc-Oinc.
"O senhor também fez um bom negócio (o que até é verdade - veja-se a evolução do preço de há dois anos para cá). Acabou de ganhar um cliente. Estou de facto interessado em comprar moedas de prata e já sei onde as virei buscar".
Só havia um senão: como disse, não vendia ouro e a moeda estava no seu cofre pessoal no banco. Tinha de falar com o filho, ir buscá-la e trazê-la para a loja. Isso significava que eu só teria a moeda na 5ª feira - hoje, dia 27. E havia mais: o filho queria dinheiro vivo, não cheques. Ou seja, teria de ir ao meu banco à hora do almoço levantar 625 Euro e ir até á Baixa com essa linda quantia a pesar-me no bolso para, em seguida, dirigir-me ao balcão, na outra ponta da cidade, onde se encontra o meu próprio cofre bancário a fim de a depositar.
É óbvio que esta história do cheque em vez do dinheiro vivo era conversa de treta, mas absolutamente compreensível para um numismático. Aceitei, claro.
E assim, hoje juntei mais uma menina para o meu PPR.

Pormenor divertido: com estas andanças - de taxi, claro - entre os balcões do Banco, a Baixa e o trabalho acabei por perceber, feitas as contas, que a moeda me acabou por ficar por 648 Euro. Se tivesse ido ao sítio do costume e supondo que receberia o meu desconto habitual de 10 Euro teria gasto 650 Euro e tido uma viajem de ida descansada.
Deus não dorme.

quarta-feira, 26 de março de 2008

As minhas Guerras nº1

A minha ofensiva esbarrou numa defesa entrincheirada e em profundidade. Eu já estava à espera de uma guerra de atrito mas apercebo-me estar a força diante de mim de tal maneira enterrada nos bunkers que será o cabo dos trabalhos para a tirar de lá. Nesta situação faço-me sempre a mesma pergunta: vale a pena? A resposta a essa pergunta é-me dada - sempre - pela reacção do exercito contrário. Mas este é um exército como nunca vi. Dotado de uma força extraordinária e uma inteligência poética. Que quer ela verdadeiramente de mim? Que quero eu verdadeiramente dela?
Por outro lado, nada disto se passou e estou apenas, como de costume, paranoico.
Nunca se sabe.

Outros futebóis

Jogo na Ameixoeira com os Lusitanos F.C.
Desta vez a minha prima J. também foi e mostrou serviço! Em relação ao jogo tudo correu bem. A minha equipa conseguiu vencer: 6-5. Claro que venho todo partido e amanhã já sei que não me vou conseguir mexer... Mas vale sempre a pena até porque o jogo correu-me bem e fiz boas defesas. Recebi também um convite do Prof. E. para participar no Dicionário que ele está a preparar, ainda que a nível fotográfico: mas é um começo... acho o projecto dele bastante interessante. Estou à espera do mail da S. com mais pormenores mas já penso ir, neste fim-de-semana, bater à porta do Mosteiro pós-moderno que fica aqui ao pé de casa para tirar umas fotos.
Quanto a outros jogos, desenrolados paralelamente a este, fiquei com a impressão de ter passado por uma experiência parecida, salvas as diferenças, com a narrada pela Equity Private neste post.
É extraordinária, de facto, a força da incompetência!... Eu já tinha a proverbial pulga atrás da orelha em relação à coisa quando senti as propostas sucederem-se umas atrás das outras numa mutação bizarra; quando recebi o resumo e vi no que realmente consistia, as minhas desconfianças transformaram-se em certezas. Uma pergunta impõem-se: como é possível ser assim - basta o nível do português em que está escrito para eriçar os cabelos da nuca - e obter um grau académico?
Novamente se confirma a minha teoria de ser a Universidade apenas a continuação do ensino Secundário; um mero carimbo mais na tramitação burocrática do adolescente para adulto. Esqueça-se a noção de ponto de partida para a criação do conhecimento. Estamos perante a consequência lógica de um ensino em que acontece aquilo que foi descrito no post anterior: no Secundário leva-se o telemovel para a aula e agride-se o «stôr», na Universidade concebem-se mediocridades e «esquemas» (para usar um eufemismo). É pena. Mas acima de tudo é um desperdício de recursos. E à tanta gente perdida por essas salas de aula à espera de uma oportunidade...
Telefonei depois do jogo para pedir "esclarecimentos" e procurar uma saída airosa. Infelizmente do outro lado tentou-se salvar a aparência da coisa. Foi pior a emenda que o soneto:
Eu, afinal, já não ia fazer a parte "a". Agora ia fazer a parte "c". Contando com esta, era já a quarta ou quinta mudança. Infelizmente, a «metodologia» requerida [sic] (o método não era definido por mim que ia investigar e escrever, mas sim por ele, forçado - claro - pelo patrocinador, um remoto deo ex machina nomeado entretanto) consistia em fazer uma espécie de resumos tirados aqui e acolá e depois compor tudo e assinar por baixo. E ala moço, vamos para o próximo ponto! ah!ah!ah!ah!
A minha reacção perante o amadorismo deste conceito de produção "cientifica" pode ser resumido roubando à Equity P. o que ela sentiu quando os gerentes de vendas da Sinister, LLC lhe apresentaram o Powerpoint que haviam preparado para os investidores de Wall Street:

Oh my god.
I counted to ten in my head. "Breathe," I thought. "There's no need to vomit. Really. That mouth watering you are feeling is just a trick of the brain. Breathe. Breathe."
It pains me to even continue to relate the rest of the conversation.

Felizmente existe o meu Ganha-Pão (Bendito! Bendito! Bendito!) e consegui assim uma desculpa plausivel e até certo ponto verdadeira para bater em retirada deste buraco negro. O resto da conversa foi então inteiramente povoado pela sigla do meu local de trabalho a qual choveu como granizo sobre a argumentação produzida do outro lado do telemovel.

Para finalizar e voltando ao post anterior com o objectivo de aprofundar a ideia de que isto é o resultado do estado do ensino infanto-secundário português tenho a dizer o seguinte:
A moda de reduzir a transmissão de conhecimentos à pedagogia levou a que a verificação da existencia ou não dos mesmos fosse desprezada como «opressora» e «castradora» (não exagero, como bem sabem). É preciso primeiro «aprender a aprender», depois - e como até «todas as opinião são dignas de respeito» - logo se vê...
Sucede estarmos numa era repleta de emissores de informação bruta cuja intensidade se transforma muitas vezes num ruído indestinto. Esgravatar na imensidão à procura de pepitas é uma tarefa imensa, inibidora, por vezes, do juízo crítico necessário à produção cientifica mas cujo resultado final separa, afinal, os rapazes dos homens. Deste modo, o facilitismo no ensino secundário, resultado ele próprio da necessidade de mostrar estatisticas ao povo votante, e continuado no ensino Superior (esmagado pelas mesmas razões), esbarra na severidade da exigência cientifica, como uma corrente fluvial nas vagas do Oceano.
É por isso que a «proposta» que recebi é tão parecida com um trabalho do ensino Secundário (eu disse-lhe de licenciatura, para ser meigo, descansem). Ela só podia ser isso, o seu autor foi treinado apenas para isso. Pior: ele queria que eu também fizesse uma coisa assim (por causa do tempo e do patrocinador, gemia - não ousei dizer-lhe que não era o tempo que era curto, era o âmbito que era vago, enfim...).
E eu sei do que falo porque já dei aulas no Secundário e os melhores trabalhos das minhas melhores alunas (a Ana e a Catarina do 8º H em Manique) encontravam-se ao mesmo nível.

Eles não têem educação? Dêem-lhes pedagogia!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Eles não têem educação? Dêem-lhes pedagogia

Embora esteja em pulgas para uma muito necessária análise à actual situação nos mercados, os acontecimentos no maravilhoso mundo da educação nacional merecem um comentário do passageiro desta Cabine.
Já toda a pátria sabe da agressão da aluna "Patricia" à Professora por causa do telemovel, ubíquo objecto ao que parece indispensável na sala de aula (para os alunos e até para os professores como me assegura a minha prima J.). Quem não sabe o que aconteceu clique aqui. Trata-se da versão original do Youtube.
Então? É giro, não é?
Esta situação merece-me três comentários: o primeiro é ser este o resultado final de quarenta anos de pedagogia e massificação escolar. Essa, para usar uma liguagem "marxista", é a Superestrutura (começa com Veiga Simão, note-se, não com o 25 de Abril, como andam por aí uns senhores a sugerir).
Em segundo lugar, a queda da pedagogia como método de ensino atingiu o estertor final: caídas as máscaras do aluno como oprimido da sociedade - pedagogia hippie e liberal - e do aluno consumidor de conhecimentos para o «mercado» - pedagogia tecnocrática -o que fica é a antiga «criança mimada» e «travessa» e o professor «corno manso» (à falta de melhor descrição). Esta segunda camada é a Conjuntura na qual vivemos e para a qual não se encontra solução pois só existem propostas desacreditadas (um Salazar em cada Sala/um hippie em cada sala/um empresário em cada sala). Estamos pois à beira de se cair num perigoso nihilismo (se é que já não aconteceu).
Resta analisar «o momento», nesta trapalhada talvez a coisa mais interessante para pensar. Em primeiro lugar é forçoso constatar o óbvio e perceber de uma vez por todas que as novas tecnologias vieram para ficar: já não é possivel esconder este caso (como tantos outros no passado) de agressões e faltas de respeito a professores por debaixo de camadas de burocracia e «conversas com pais e alunos» ou simples palmadinhas nas costas de uns e de outros. O rei vai nu e a sua nudez foi mostrada em triunfo no Youtube (obrigado estrangeiro por a tua luz iluminar este poço de treva chamado Portugal). Incrivelmente os tontos dos senhores professores do Conselho directivo nem sequer tinham conhecimento do que se passara numa das suas salas de aula na semana antes da Páscoa. Foi preciso a mãe de uma aluna queixar-se na escola!!

Pode ser que com esta vergonha na internet (e outras se seguirão pois os telemoveis abundam nas salas de aula) os professores, os conselhos directivos e os pais ganhem vergonha na cara, pois se há coisa que o português receia é a vergonha.

Isso valerá mais do que qualquer avaliação feita a professores moralmente falidos. O medo de serem a proxima «professora de francês (ou lá o que é)» levará os docentes a usarem mais vezes da mão. O medo de serem o próximo Conselho directivo na mira das objectivas da Televisão irá incentivar os mesmos a defender os professores. O medo de passar uma vergonha no café: «foi a filha daquela que...» ou no local de trabalho «então já sabes que o filho do Rui...» irão provocar reacções nos pais . E nestes últimos bem necessária é a vergonha na cara pois são os responsáveis por aquilo que as suas crianças fazem ou dizem.

Haja esperança! Como é sabido, o medo é uma das bases da disciplina.

***

Em todo o caso é de bom tom fornecer um contributo para a solução deste problema. Não há aliás neste país burro que já não o tenha feito: o asno ocupante desta cabine tem portanto o direito e o dever de zurrar também.
Como? É simples, a sério, é simples: é preciso ir ao bolso dos pais. Faça-se uma tabela de multas por cada caso destes (tipo código de Hamurabi): Expulsão da sala de aula - 5 Euro; Injurias verbais aos docentes/funcionários- dez Euro; Ameaças de agressões - 50 Euro; Agressões 100 Euro, etc. E já agora o débito seria automático no salário ou debitado nos Impostos a pagar ao Estado. Igual tabela deveria ser feita para os professores que deixassem a indisciplina grassar na sala de aula e para as escolas que deixassem os alunos fazerem o que querem (a pagar por todos, pais, profs e funcionários)
Vão ver como num instante a violência diminuia.
Atentem nisto: em Portugal, para as pessoas se mexerem é preciso fazê-las passar vergonhas e ir-lhes ao bolso. Isto não vai lá com admoestações e «inquéritos»
Para os casos graves reincidentes expulsão pura e simples do sistema educativo ou ingresso num reformatório.

domingo, 23 de março de 2008

Back on Earth

Sempre tive a sensação de que existe alguma semelhança entre os últimos momentos de Domingo e os ultimos momentos do condenado na sua cela antes de ser chamado pelo carrasco.
Estas férias da Páscoa foram, de facto, as melhores dos últimos anos, o que realça a sensação de fim de festa. A companhia dos meus primos fez a diferença e serviu, como se fosse necessário, para mostrar como a minha situação poderia ser melhor se já tivesse acontecido aquilo porque tanto anseio. Por vezes a parede de vidro entre o que a minha vida é e o que a minha vida poderia ser parece desmesuradamente fina: quando terei o meu 25 de Abril?
Deixando as divagações, três acontecimentos se destacam: aprendi a jogar mah-jong, tirei fotografias fantásticas do Sábado de Aleluia e por alguns momentos - sobretudo durante a expedição a Valencia de Alcantara - o tempo pareceu suspenso e o meu espírito teve alguma paz. Só faltou nevar para a coisa ficar perfeita. Que pena, aliás, não termos tido mais um ou dois dias: sem dúvida que acabariamos por ter ido à Serra da Estrela.

***

Entretanto continuo a ler o livro do Estaline. Por coincidência, as férias do homem durante o início dos anos 30 calharam ser tratadas nos capítulos lidos. É de ficar perplexo com a descrição que o autor faz das temporadas de férias do tirano com a sua corte. Dir-se-ia mesmo uma verdadeira corte de um soberano do século XVII ou XVIII com as suas intrigas, potentados e joie-de-vivre. A Versailles de Luís XIV veio-me várias vezes à lembrança, mas numa versão mais casta e comedida, ainda que incoparavelmente mais tenebrosa. Na realidade não deveria ficar surpreendido: é a ideologia dominante que atirou para uma realidade não-humana a figura desse monstro do século XX; primeiro elevando-o como se fosse um Deus na Terra; depois como a razão de ser de todos os erros da esquerda. Dirijo-me agora para a época do Terror, veremos o que acontece. Estou especialmente curioso para ver como o autor interpreta o golpe dado pelo tirano no Exercito vermelho e as suas consequências no primeiro ano de guerra com a Alemanha. Entretanto o desprendimento da corte em relação ao sofrimento do povo que deveria servir continua a chocar a cada página: como é possível afirmarem - e acreditarem - pertencer ao governo mais justo da história e ao mesmo tempo mandar matar milhões de pessoas à fome? Os Nazis pelo menos sabiam o que estavam a fazer. Como é possivel não reparar? E mais grave: como era possivel, tanta e tanta gente no Ocidente, não perceber a terrivel realidade daquela ilusão? Uma vez mais constato ser o desejo de virtude e de justiça apenas mais um atalho para o mal fazer o seu trabalho. A soberba da Hubrys tem como a Hidra, mil cabeças.

***

Resta-me tentar perceber como se faz o upload dos vídeos e qual o limite dos mesmos. Espero especialmente poder disponibilizar o video de 4 minutos tirado durante a procissão.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A delicada quietude da última meia-hora de trabalho antes de fim-de-semana prolongado

Pela primeira vez envio um post do meu local de trabalho. Falta meia hora para começarem as férias da Páscoa e isto parece o deserto de Atacama. Rezo para que não apareça o proverbial chato a pedir-me algo demorado a 5 m de fechar as portas!
O silêncio que vem da parte superior do edifício, aliás, é um bom exemplo de que toda a gente já desertou: só as mulas da Comercial continuam. Que remédio!
Em Nova York o ouro afundou-se para os us$915. Depois dos records desta semana, da baixa das taxas de juro do "helicopter Ben" e do soçobrar da Bear Sterns, bastou um cheirinho a adrenalina no mercado de acções para os fundos puxarem o tapete debaixo do ouro. Hum... gostaria imenso de saber onde, na aparente subida constante das materias-primas termina o esgotamento da mãe-natureza e começa a avidez (terror?) dos fundos.
Independentemente disso, com o ouro a este preço, é altura de ir às compras, antes de marchar para o Alentejo. De novo soam as trombetas dos eufóricos da bolsa! Até à próxima crise...

Plágios

A coisa compõe-se. O aspecto da Cabine vai tomando forma e parece-se cada vez mais com um plágio descarado à organização do Going Private. Enfim... a rapariga tem jeito para a coisa: os bons exemplos são para ser seguidos.
Quanto ao resto do planeta ainda é demasiado cedo para voltar aos comentários e demasiado tarde para me pôr a pensar neles. Dentro de oito horas tenho de ir trabalhar e é melhor pensar em dormir. Espero na 5ª Feira ter tempo suficiente para deixar definida a estética final da Cabine e passar às coisas importantes.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Morreu Arthur C. Clark

É triste começar o meu regresso à Cabine com a notícia da morte de Arthur C Clarke mas sendo fã e candidato a escritor de ficção cientifica tenho de deixar aqui a minha modesta homenagem a outro criador de mitos que nos deixa.

What's going to happen? Something wonderful

Estou certo que onde quer que ele esteja agora encontrará esse sítio cheio de estrelas...

* * *
Quanto ao resto e visto já ter passado tempo demais sem pôr os pés na cabine é melhor começar por arrumá-la. Primeiro tenho de voltar a perceber como isto funciona; depois, dar inicio à migração da bonecada, links e textos que deixei na antiga cabine no Googlepages.
No entretanto tenho ainda de manter um minimo de comentários relativamente ao mundo lá fora.
Amanhã será um longo dia...