quarta-feira, 28 de maio de 2008

Encarar a realidade segundo o comum cidadão

Continua a loucura reinante em relação ao futuro do automóvel. Hoje, ao passar pelo ganha-pão vindo do Tirbunal (irei contar tudo num post próximo) deparei-me com mais um mail de indignação autodependente. Desta vez o mail exortava-nos a colar um autocolante no automóvel em protesto pelo aumento dos combustiveis. Já nem sei oque dizer sem me tornar um chato. Prometi, porém, a mim próprio responder a esse mail sugerindo que se cole antes a imagem que aqui vêem.
Veremos as repostas ao dito...

sábado, 24 de maio de 2008

Obama: um retrato

As "primárias" democratas de 2008 que vão escolher - tudo indica - o próximo presidente dos Estados Unidos ganharam já o seu lugar na história.
É pena que a cor do meu candidato preferido, Barak Obama, sobressaia como uma montanha alpina numa planície deserta, distraindo o público, americano e não só, das importantes questões que urgiam estarem a ser tratadas. Por vezes, ao ouvir opiniões sobre estas primárias parece que a sua importãncia advém mais dessa característica do que da necessidade dos Americanos despedirem com um valente pontapé no rabo a elite apodrecida que governa o Império (e à qual Hillary Clinton pertence por direito próprio).
É, porém, forçoso tratar o assunto, pois, como não podia deixar de ser, o facto de não ser branco (ou completamente branco) é um facto político, goste-se ou não.
A América é o país do one drop rule, a mais estúpida noção que uma sociedade poderia ter concebido e cuja perversa influência, na América, se faz sentir da mais nazi direita à mais "revolucionária" esquerda (através dos miasmáticos identity studies, sobretudo). É, afina,l o país que considera negra a correspondente da CNN na Casa Branca Suzanne M. Malveaux, e está tudo dito. O facto de ter aparecido neste contexto, um candidato viável que não é branco à presidência é, só por si, uma mudança radical.
Não querendo desfazer, todavia, na influência que a genética terá tido na sua carreira política (ele não é Republicano, certo?), bem como a realidade das relações raciais na América dos anos 70 e 80 onde cresceu (ele não é Republicano, repito), alerto para o facto de os seus antepassados negros não terem vindo no porão de carga de um navio negreiro. Obama é um afro-americano genuíno, um mestiço Kansas-queniano que cresceu entre Jakarta e Honolulo. Onde está a plantação sulista, o ghetto de Detroit ou de Los Angeles na sua história? Não estão. Este pormenor, no que diz respeito áqueles que afirmam ser o seu sucesso o resultado da melhoria do estatuto dos negros na América, é um angulo que ainda não vi abordado. Talvez seja um pormenor, é verdade, porém a sua peculiar história de vida é cheia de características bem pouco americanas e sobretudo bem pouco negro-americanas, a começar pelo mal disfarçado meio ateu (pai e mãe e depois padrasto) em que foi criado e a terminar no percurso internacional da sua infância e juventude. O homem é tudo menos um padrão estatístico, de facto.
Este é pois o seu background. Comparando-o com o da detestável Sr.ª Clinton é, em minha opinião, quase uma razão - se fosse americano - para votar nele. Mas há outras. É precisamente nessas outras razões que penso ser Obama o mais indicado candidato para ocupar a Casa Branca sobretudo quando estamos a entrar num periodo particularmente turbulento da história da humanidade. Tanto McCain (um sujeito com o qual até simpatizo) como a horrivel Srª Clinton representam o passado. Não sei se Barack Obama representa o futuro, no sentido em que não sei até que ponto está consciente dos problemas do "pico petrolífero" e do aquecimento global (embora já tenha dado bons sinais, como aconteceu em Portland), mas não me parece ser nem um monstro de ambição (Hillary - a outra candidata viável) ou um irresponsável (Bush II - o imperador cessante). A ver vamos.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Aviso à navegação

Serve este post para recordar que há vida na cabine (tenho andado com imensos afazeres) e que o petróleo acabou de atingir os 135 dólares.
À minha volta as pessoas não se deram ainda conta da realidade do "pico petrolífero". Esta subida incessante é atribuída a "especuladores" e outras sinistras criaturas bem como aos "grandes interesses".
Esta visão conspirativa do mundo é especialmente aguda em países como o nosso ou a América, completamente viciados em petróleo e automóveis. Os abutres, aliás, andam já em circulo, sobre a cabeça dos vilões do momento: "as grandes companhias petrolíferas", acusadas de "chorudos lucros à custa do povo".
Noutros tempos nem valeria a pena discutir o assunto; infelizmente, os tempos impõem a defesa da racionalidade.
Hoje mesmo, perante o congresso americano, executivos de grandes empresas petrolíferas desse país foram responder perante os seus feios pecados. Obviamente o publico obteve a confissão esperada. Pressinto que isto ainda é o principio.
Também em Portugal aconteceu uma coisa semelhante. Obviamente, de forma menos transparente: a GALP informou o povo que não irá subir os preços de venda nas bombas. Segundo o que li no DN de hoje e ouvi nos telejornais do almoço, esta paragem na escalada do preço da gasolina é resultante de pressões do governo. Resta saber por quanto tempo o governo poderá manter esta generosa atitude sem cair na bancarrota.

Informo o leitor que a irracionalidade começa lentamente a controlar a situação. Urge indicar algumas realidades básicas:

1º ponto: Nenhuma companhia do Ocidente (Shell, BP, Exxon, Total) pode ser já considerada uma "grande companhia petrolífera". São sim, uma espécie de Benfica, vivendo mais de glória passada do que de sucessos presentes. Têem lucros fantásticos? Pois têem. Infelizmente esses lucros são impotentes para fazer nascer uma gota de petróleo. Para isso são necessários milhões de anos, não milhões de dólares.

2º Ponto: os grandes são agora, por ordem de grandeza: a ARAMCO (Arábia Saudita), NIOC (Irão), PETROLEOS DE VENEZUELA (Venezulea), PETROCHINA (China), GAZPRON (Rússia), PETRONAS (Malásia), PETROBRAS (Brasil), NPD (Noruega), NNPC (Nigéria), SONANGOL (Angola).
OH! Que coincidência! Mas essas companhias são todas de países exportadores de petróleo! Pois são. São companhias nacionalizadas que juntas são responsáveis por 80% do petróleo extraído e depois enviado para as refinarias da Shell, BP, Galp, etc
Não acreditam? Leiam este artigo no Financial Times (reparem que data de Março de 2007!). Continuam a não acreditar? Olhem para um mapa, então.

É óbvio que estas companhias também não podem inventar petróleo onde ele já não existe.

Seria porém salutar que a esquerda, que ao que parece apanhou a bandeira do preço dos combustiveis, deixasse os seus preconceitos de lado e, nesta hora grave e como é seu dever, questionasse estes gigantes estatais sobre o preço do petróleo. Talvez assim a opinião pública começasse a perceber que afinal a subida não se deve (apenas) a especuladores mas a razões puramente geológicas.

Infelizmente esta atitude não traria votos e induziria ao pânico (após o periodo de incredulidade). Além disso, a esquerda, depois de cinquenta anos a vilipendiar as grandes compainhas ocidentas e a glorificar a empresa estatal, teria grandes dificuldades para admitir que afinal os maus da história não passam de "Benficas" que não fazem já mal a ninguém e que - como Matt Simmons hoje afirmou no Bloomberg - se encontram afinal em processo de "liquidação" (sic).

É melhor, portanto, aproveitar a onda da perseguição pública aos "grandes interesses". Até porque a direita já lá está a atirar pedras. Dá votos, faz bem ao ego e acima de tudo é irrelevante em consequências imediatas e não obriga a pensar. Mais: cria a impressão (e esta é a parte pior) que afinal a gasolina a meio-tostão está ao virar da esquina. Basta fazer a "Revolução".

A propósito de esquerda, onde param os ambientalistas que andam tão sossegados?

Com a gasolina a este preço parece-me que afinal ainda há esperança para o planeta Terra e para um habitat humano mais próximo da dimensão correcta (isto é, sem dois terços dos automóveis e sem sociedade de consumo). Porquê este silêncio? Ou será que andam também ocupados a atirar pedras à BP... por ter a gasolina tão cara?