terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Alquimia: prática de transmutar elementos inferiores em ouro puro.
Miles Davis interpreta "Human Nature" de Michael Jackson




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012




Hoje tive uma surpresa! Que bom que foi!




Foi em 2008 que descobri a América mas a lembrança do que por lá vi permanece. Jamais vi nação igual. A cadeia de supermercados Wal-mart foi especialmente chocante. Tudo isto é real.
Ainda os portugueses se queixam do Pingo Doce... não sabem a sorte que têm.


"Uma separação" ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro. Inteiramente merecido. O Irão não é só Ayatholas.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ontem à noite fui ver "O Avarento" do Moliére pela "Alta Cena" um grupo amador de teatro. Recomendo vivamente. Está em cena até ao próximo fim de semana, inclusive. Depois faz-se à estrada. É na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul. O bar depois do espectáculo é perfeito. Noites assim são sempre bem vindas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Já fomos o País "mais liberal da Europa" (1820); o "baluarte contra a peste revolucionária" (1830-32 e depois em 1848 e em 1870-71); o país "mais ordeiro da Europa" (1852-1890); o país "mais avançado da Europa" (1910); o "defensor da civilização cristã" (1936-1968); um "oásis de paz" (1939-1945); o "colonizador exemplar" (entre 1891 e 1974); o "descolonizador exemplar" (1974-1977); o "país mais socialista da Europa" (1975); o "bom aluno do FMI" (1981); o "aluno exemplar da CEE" (1985-1991); o país do "melhor Campeonato de futebol" (2004); o "oásis imune à crise" (2001 e 2008) e agora em 2012... oh surpresa: somos o bom aluno da troika! Portugal, berço de heróis!
"Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo."

Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Tempo'

Ontem, Quinta-feira tive um destes momentos. A vida assim tem mais açúcar.


Este vídeo é mais do que parece. Vocês vêm uma ovelha; eu vejo um lobo disfarçado de ovelha. Devem achar que eu sou paranóico. Não sou. Também não me interessa que concordem ou deixem de concordar com o anúncio. Acham-no bonito, o que é mais perigoso.
Começamos por ver um professor de ciências tentando provar numa aula que Deus não existe usando Retórica. Sabemos que é uma aula de ciências pois existem equações e coisas incompreensíveis no quadro e o professor usa uma barba bicuda e óculos. Para muitos isso é a Ciência. Atentas, vemos crianças amorosas e há uma bela música (é a ovelha). O cerne do argumento do Professor, porém, a existência do mal prova a inexistência de Deus (Deus é bom, etc). nada tem nada a ver com Ciência. Tem a ver com Filosofia. É neste campo que a questão colocada deve ser posta. Para haver honestidade no anúncio a aula deveria ser de Filosofia, ou vá lá, História. Mas não, é de Ciência e isto é de propósito. Lobo. De seguida temos outro momento amoroso (ovelha). Uma das crianças interpela o professor e com uma lógica assombrosa desmonta o argumento. Informam-nos no final que o jovem é Einstein. Estas palavras foram proferidas certamente pelo adulto Einstein que vivia em Princeton; não pela criança que vivia em Munique. Estamos perante um anacronismo deliberado baseado não no verdadeiro Einstein mas na ideia popular do homem. Mais lobo. Já não resta ovelha nenhuma: o anúncio deliberadamente mente, distorce e puxa ao sentimento. Não pode haver beleza onde há embuste.
Este anúncio foi encomendado pelo Governo da Macedónia e insere-se numa campanha para promover a Educação. A Educação, note-se! Procurei no Youtube e, pelo menos em Inglês, não vejo um anúncio que apresente um argumento contrário. O Governo ficou-se pela distorção da Ciência e pela promoção de um Deus do embuste, ao que parece. Mas qual é a importância disto? Não podemos relaxar e desfrutar? Eu não consigo porque quando vejo um governo europeu a fazer uma coisa destas pergunto-me quanto tempo é que levará isto a chegar aqui ao nosso país. Se duvidam vão ao Google e escrevam: “Intelligent design” ou “teach the controversy” e verão uma matilha de lobos a olhar para vocês. 






domingo, 19 de fevereiro de 2012

"Every passing hour brings the Solar System forty-three thousand miles closer to Globular Cluster M13 in Hercules -- and still there are some misfits who insist that there is no such thing as progress." (Kurt Vonnegut, The sirens of Titan)
Hoje, a mensagem de Arecibo faz 38 anos. Tem mais dois anos do que eu e duas coisas nos unem: a humanidade que nos fez nascer; o destino para onde se dirige: as estrelas.

domingo, 12 de fevereiro de 2012


ALMOÇOS GRÁTIS

Quando a conferência teve finalmente o intervalo, por volta das duas da tarde, o grande hall central apinhou-se de imediato. Encostada à parede, a mulher de tailleur azul abriu a mala e tirou a barra energética que iria ser o seu almoço. Trincou-a alheada, vendo à sua frente desconhecidos lutando delicadamente pela exígua comida deixada na mesa ao centro do espaço aberto. Observou sorrisos e ouviu palavras amáveis desprendendo-se dos confrontos firmes e mudos pelas sandes e croquetes que desapareciam de cima da toalha branca. À sua direita viu a mulher de tailleur preto que estivera sentada a seu lado durante a manhã aproximar-se. «Péssimo catering» disse esta com ar abatido «hoje não almoço». A mulher de tailleur azul despertou da apatia e compadeceu-se. Partiu metade da sua barra oferecendo-lhe a parte ainda embrulhada na prata. «Não. Não» murmurou a outra surpreendida mas a segunda insistência conquistou-a e agradeceu com o alívio estampado no rosto. Apresentaram-se; falaram dos seus empregos e do que as levara ali. Cochicharam toda a tarde, vencendo juntas a sonolência propagada pelos Powerpoint e, no final, combinaram no dia seguinte chegar mais cedo para um café. Nessa noite, a mulher de tailleur azul voltou contente a casa. Não sentia a fome do estômago, nem o cansaço das pernas ao caminhar. Deu por si a pensar que na vida pequenos gestos podiam abraçar o mundo aos bocadinhos. No dia seguinte fez como combinado: chegou cedo e procurou-a. Não a viu. Tentou voltar para o lugar da véspera mas este encontrava-se ocupado e teve de se sentar junto a um sujeito que a olhou de alto a baixo e aproveitou a primeira deixa para meter conversa. Quando as luzes começavam a desvanecer-se viu-a entrar na sala acompanhando indivíduos de ar solene. Sentou-se com eles, na primeira fila, em cadeiras reservadas. Depois caiu a escuridão. À hora do almoço a mulher de tailleur azul voltou a encostar-se à mesma parede enquanto à frente o mesmo implacável combate educado pelos croquetes se tornava a desenrolar. Trouxe sandes desta vez e comeu-as lentamente. Viu então a mulher de tailler preto passar à sua frente. Esta reparou nela e aproximou-se sorrindo. «Olá» disse «hoje não me deixei desprevenir.» Dito isto, abriu a mala. Lá dentro estava uma embalagem de bolachas Oreo. «Gosto tanto dessas bolachas!» exclamou involuntariamente a mulher de tailleur azul «a minha mãe dava-se sempre uma e um copo de leite morno antes de me deitar quando era criança». A outra olhou-a incrédula; depois disse «Ah… sim? Referia-me ao passe VIP que o meu director me arranjou para ir almoçar com os conferencistas. Pediu-me para acompanhá-los hoje. Não pôde vir». Tirou então um cartão verde plastificado da mala e exibiu-o orgulhosa. «Bom… Tenho de ir. Depois do almoço vou ter de preparar um monte de papelada. Tem de ser: não há almoços grátis neste mundo, como sabe! Foi um prazer conhecê-la. Adeus». E desapareceu por entre a multidão de desconhecidos que no grande hall central se amontoavam de forma cortês.
©João Paulo Carreteiro 2012




Está na Bíblia:
1.O Senhor quis pôr à prova Abraão e chamou por ele: “Abraão”. Este respondeu: “Aqui estou”. Deus continuou:”Leva contigo o teu único filho, Zé, de quem dizes tanto querer, vai à região do monte Merkel e oferece-o lá em sacrifício. 2.Na manhã seguinte, Abraão preparou lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho do lugar que o Senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho Zé. Quando lá chegou, disse então aos criados:”Fiquem aqui que eu vou acolá com o menino, para adorarmos o Senhor e depois voltamos para junto de vocês.” 3.Abraão colocou aos ombros de Zé a lenha, como era hábito, e ele próprio levou o fogo e a faca. Ambos foram caminhando juntos. 4.Zé chamou Abraão:”Ó pai!” E ele respondeu:”Diz meu filho”. Zé perguntou: “Levamos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o sacrifício?” Abraão respondeu-lhe:”Deus providenciará, meu filho, não sejas piegas”. 5.Chegaram ao lugar de que Deus lhe tinha falado e Abraão construiu ali um altar e acomodou a lenha por cima dele. Depois, atou o seu filho que chorava e colocou-o sobre a lenha dizendo-lhe: “Zé, o Senhor nosso Deus, pediu-me que te sacrificasse junto à montanha Merkel. Tenho de te sangrar e depois pegar-te fogo. Assim exige o Senhor, por isso cala-te e não sejas piegas”. 6.Abraão entendeu então a faca e levantou a mão, para sacrificar o seu filho. Mas do céu, o mensageiro do Senhor chamou por ele:”Abraão! Abraão!” Este respondeu-lhe:”Aqui estou”. 7.E o anjo disse-lhe:”Agora já vejo que Lhe és obediente, pois estavas disposto a não poupar sequer o teu filho obedecendo ao Senhor. Olha para trás”. Abraão voltou-se e viu atrás de si os Profetas Guterres, Barroso, Sócrates e Cavaco sentados em tronos de ouro louvando ao Senhor. 8.E o anjo continuou:"Estes que aqui vês, também obedeceram ao Senhor e sacrificaram tudo e todos, por isso Ele os recompensou com regalias mais abundantes que as estrelas do céu ou as areias da praia. E já que foste como eles a tua vez há-de chegar". 9.Abraão pôs-se então a louvar e foi ter com os criados para lhes dar a boa nova. 10.Zé que havia ficado esquecido sobre o altar virou-se então para o céu e exclamou: "Senhor! E eu?". 11. E do céu trovejou então uma voz que disse: "Então não escolheste vir com ele até aqui? Não carregaste a lenha dele? Não te deixaste atar de mãos e pés? Queres o quê? Milagres?"