Sinto-me feliz e vagamente inquieto ao mesmo tempo.
É quase como ter uma namorada nova.
Acabei de saber por um mail enviado pela minha amiga M. que ela está de partida para Luanda, esse mítico sítio do génio luso-tropical. Já lhe pedi fotos para comentar aqui na Cabine, claro. Espero ansiosamente pelas mesmas: malhar na mania mitómana que os portugueses têm de Africa em geral e de Angola em particular é um dos meus desportos favoritos. De resto, para que o leitor perceba desde já o que quero dizer com estas palavras revelo, na integra, o mail que lhe enviei:
Finalmente consegui dar início ao safari fotográfico às Ordens religiosas. Como não disponho de muito tempo para fazer as coisas bem feitas decidi concentra-me numa única Ordem: a do Sr. representado no ícone. Se houver tempo para mais, logo se verá.
Porque hoje é Sábado vim trabalhar.
Já cá canta mais uma. Desta vez não foi no sítio do costume. Na quinta-feira passada passei por lá mas o preço da dita ainda não tinha descido: continuava nos 660 Euro. Isto depois da queda do Ouro para 600 Euro em Londres! Como sei que eles deixam sempre uma diferença de 40 Euros de lucro entre o spot price e o que se vê na montra, mandei-os dar uma curva. Ruminando frustações, deambulei pela Baixa até embater num sítio incrivel, uma velha loja de numismática e venda de prata. Como também pretendo investir na Kissing cousine do ouro - nasceu em mim a ideia de ver se tinham American eagles ou Buffalos. Talvez até tivessem o que me tinha levado à Baixa.
A minha ofensiva esbarrou numa defesa entrincheirada e em profundidade. Eu já estava à espera de uma guerra de atrito mas apercebo-me estar a força diante de mim de tal maneira enterrada nos bunkers que será o cabo dos trabalhos para a tirar de lá. Nesta situação faço-me sempre a mesma pergunta: vale a pena? A resposta a essa pergunta é-me dada - sempre - pela reacção do exercito contrário. Mas este é um exército como nunca vi. Dotado de uma força extraordinária e uma inteligência poética. Que quer ela verdadeiramente de mim? Que quero eu verdadeiramente dela?
Jogo na Ameixoeira com os Lusitanos F.C.Oh my god.
I counted to ten in my head. "Breathe," I thought. "There's no need to vomit. Really. That mouth watering you are feeling is just a trick of the brain. Breathe. Breathe."
It pains me to even continue to relate the rest of the conversation.
Embora esteja em pulgas para uma muito necessária análise à actual situação nos mercados, os acontecimentos no maravilhoso mundo da educação nacional merecem um comentário do passageiro desta Cabine.
Sempre tive a sensação de que existe alguma semelhança entre os últimos momentos de Domingo e os ultimos momentos do condenado na sua cela antes de ser chamado pelo carrasco.
Entretanto continuo a ler o livro do Estaline. Por coincidência, as férias do homem durante o início dos anos 30 calharam ser tratadas nos capítulos lidos. É de ficar perplexo com a descrição que o autor faz das temporadas de férias do tirano com a sua corte. Dir-se-ia mesmo uma verdadeira corte de um soberano do século XVII ou XVIII com as suas intrigas, potentados e joie-de-vivre. A Versailles de Luís XIV veio-me várias vezes à lembrança, mas numa versão mais casta e comedida, ainda que incoparavelmente mais tenebrosa. Na realidade não deveria ficar surpreendido: é a ideologia dominante que atirou para uma realidade não-humana a figura desse monstro do século XX; primeiro elevando-o como se fosse um Deus na Terra; depois como a razão de ser de todos os erros da esquerda. Dirijo-me agora para a época do Terror, veremos o que acontece. Estou especialmente curioso para ver como o autor interpreta o golpe dado pelo tirano no Exercito vermelho e as suas consequências no primeiro ano de guerra com a Alemanha. Entretanto o desprendimento da corte em relação ao sofrimento do povo que deveria servir continua a chocar a cada página: como é possível afirmarem - e acreditarem - pertencer ao governo mais justo da história e ao mesmo tempo mandar matar milhões de pessoas à fome? Os Nazis pelo menos sabiam o que estavam a fazer. Como é possivel não reparar? E mais grave: como era possivel, tanta e tanta gente no Ocidente, não perceber a terrivel realidade daquela ilusão? Uma vez mais constato ser o desejo de virtude e de justiça apenas mais um atalho para o mal fazer o seu trabalho. A soberba da Hubrys tem como a Hidra, mil cabeças.
Pela primeira vez envio um post do meu local de trabalho. Falta meia hora para começarem as férias da Páscoa e isto parece o deserto de Atacama. Rezo para que não apareça o proverbial chato a pedir-me algo demorado a 5 m de fechar as portas!
A coisa compõe-se. O aspecto da Cabine vai tomando forma e parece-se cada vez mais com um plágio descarado à organização do Going Private. Enfim... a rapariga tem jeito para a coisa: os bons exemplos são para ser seguidos.
É triste começar o meu regresso à Cabine com a notícia da morte de Arthur C Clarke mas sendo fã e candidato a escritor de ficção cientifica tenho de deixar aqui a minha modesta homenagem a outro criador de mitos que nos deixa.