Ontem à noite estive no chat com a P. Ela é brasileira e informou-me ser hoje, no Brasil, "Dia nacional do homem" (refiro-me ao macho da espécie)! Fartei-me de rir e, emocionado por semelhante extravagância, agradeci-lhe, em nome da minha parte da humanidade, por se terem lembrado de nós.
Ela trabalha na USP e, sendo universitária sul-americana da área de humanidades, é consequentemente parte de uma tribo obcecada com "a raça", a "identidade", o "género" e coisas assim. Por isso garantiu-me que o dia se destinava a "comemorar os feitos do homem" e que se havia proposto, no contexto de um pequeno inquérito universitário, a perguntar junto dos seus conhecidos qual achavam serem os três maiores feitos da respectiva parte da espécie:
Depois de uns momentos de galhofa provocada por ter dito: "1) aturár-vos; 2) ouvir-vos; 3)amár-vos." Respondi-lhe, mais sério: "1) a ciência; 2) a escrita; 3) o vôo artificial".
Exclamou: "Mas isso são conquistas da Humanidade!"
Concordei, acrescentando: mas fomos nós que as iniciámos/criámos e as desenvolvemos depois, quase sempre sozinhos (embora por escolha própria, é certo). E também podia juntar a arte, a música, o paraquedismo, o dinheiro, a agricultura, a apicultura, o fogo, a religião organizada, a bússola, os desportos radicais, a democracia, a internet e por aí fora.
Perante a ira demostrada do outro lado do Atlântico, achei melhor explicar-me:
Eu sugeri que as descobertas e conquistas da humanidade (a nível técnico e artístico que as partes sentimental e social vêm, claro, dos nossos antepassados primatas) deverão ser-nos atribuídas com toda a justiça. Isso mesmo. Como afirma o actual "discurso oficial", eivado de feminismo, foram os homens que "definiram o mundo como ele está", frase cheia de azedume. Por mim tudo bem, já se disse o mesmo dos "arianos", dos "operários", dos "capitalistas", dos "judeus" e de um enorme desfile de grupos e sub-grupos. Agora são os "homens". Porém, se somos responsabilizados pelas perversões dos usos das conquistas humanas, devemos também ser creditados, quer por elas, quer pelo que de bom nos deram, não? Nem que seja só no "nosso" dia.
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Veio depois a arenga dela e respectivos conselhos. Li, como um aluno mal comportado lê uma reprimenda. E não insisti, claro. Eu gosto muito dela mas conheço os dogmas do actual mundo universitário e sei que toda esta questão, mesmo a do "Dia nacional do homem" esconde as complexas forças da "identidade de género" ou lá qual é o nome que lhe dão. E como acho que essa maneira de ver o mundo não é adequada a ler a realidade, sempre que posso, tento "desconstruí-la" (para usar o jargão da seita).
Enquanto lia as suas palavras, tive assim, a ideia de fazer um post dedicado ao "15 de Julho", bem como algumas considerações sobre o futuro das relações homem-mulher (neste aspecto em particular).
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Eis o sumo do que concluí:
Como acontece com todas as ideologias que se tornam "imperiais", o feminismo, sentiu a necessidade de "invadir a Rússia". Essa Rússia - esse território vital que precisa de controlar - é o controlo da procriação e da sexualidade. A sua arma, a pílula.
Mas sendo as coisas o que são, suspeito que, como no passado aconteceu com os invasores de outras Rússias, o feminismo há-de embater no respectivo "inverno russo" e despedaçar-se-á em mil bocados.
Esse "inverno russo" é o desastre demográfico que envolve todos os países nos quais as mulheres conseguem o domínio sobre estas questões. É que, para além de um certo limite (a substituição geracional), a sociedade torna-se incapaz de se regenerar. Imaginem o que seria tentar fazer a "Revolução dos anos 60" numa sociedade com mais "pais" que "jovens" . Não se faria, claro. Deliro? Eis dois exemplos: o Japão e a China actuais...
E quanto àqueles que sonham com os imigrantes para "fazer a revolução" ou para "construir a economia", desenganem-se, porque eles vêem de sociedades... bom... conservadoras (já para não dizer francamente reaccionárias).
Gostaria a menina/senhora que me lê de viver numa sociedade islamizada ou africanizada? Hum...? ;)
Temo, pois, que a queda demografica seja para o feminismo, o que o Inverno russo foi para Gustavo IX, Napoleão e Hitler.
Tal como estes três conquistadores, o feminismo, através da pílula, avançou rapidamente pela vastidão da realidade que pretendia conquistar. Mas a rapidez do seu sucesso acabará, julgo, por plantar a semente da sua derrota. Por enquanto, ainda estamos na fase de Borodino, de Kiew ou da conquista de Smomlensk. Mas é bom que se verifique se o equipamento de inverno já está a ser reúnido em Varsóvia e em Vilnius. Parece-me que não...
A Rússia atinge temperaturas, no Inverno, na ordem dos 50º negativos...
Feliz dia do homem!