Já cá canta mais uma. Desta vez não foi no sítio do costume. Na quinta-feira passada passei por lá mas o preço da dita ainda não tinha descido: continuava nos 660 Euro. Isto depois da queda do Ouro para 600 Euro em Londres! Como sei que eles deixam sempre uma diferença de 40 Euros de lucro entre o spot price e o que se vê na montra, mandei-os dar uma curva. Ruminando frustações, deambulei pela Baixa até embater num sítio incrivel, uma velha loja de numismática e venda de prata. Como também pretendo investir na Kissing cousine do ouro - nasceu em mim a ideia de ver se tinham American eagles ou Buffalos. Talvez até tivessem o que me tinha levado à Baixa.
O sítio merece descrição: formigando por incontáveis prateleiras de vidro, estantes e recantos viam-se moedas antigas e recentes do planeta inteiro. Havia também fotografias a preto-e-branco com imagens antigas e uma extraordinária colecção de fotos de pretéritas equipas do Sporting (bem como de equipas estrangeiras de futebol).
Dir-se-ia ter aterrado em 1935.
Então, no interior deste depósito de coisas velhas vi o vendedor, o qual, lia entretido o jornal na pose sentada de quem, pareceu-me durante um fugaz segundo, se alivia na sanita de casa.
Afinal era um banquinho minusculo que o apoiava. Levantou-se.
"Boa tarde. Tem Kruggerrands?" disse, procurando dar aos meus lábios o melhor som afrikander que ouvi no ficheiro sonoro da Wikipedia.
"Anh?" disse este abrindo muito os olhos.
Claro. Lá conseguiu perceber depois o que eu desejava. Mas não vendia ouro, só prata. Disse-lhe que apenas estava interessado na prata propriamente dita e não em numismática. Ele sorriu e disse-me ter bullion coins americanas e mexicanas, usou mesmo a expressão em inglês. Afinal era apenas um pouco surdo.
Quando eu me preparava para pedir para ver algumas ele disse-me que podia-me arranjar um Kruggerrand. Contou-me então ter oferecido uma ao filho, há dois ou três anos, mas que ele «não queria saber» e que lhe estava sempre a pedir para a vender».
"Trabalha num banco, sabe".
"Pois." Eu estava ver o filme todo: "o ouro é uma relíquia para velhos tontos e sovinas". "O que está a dar é crédito, crédito, crédito". "Faça um PPR que é ao mesmo tempo um cartão de crédito" (Este produto é fantástico. clicar aqui para ver esta aberração de usura. E feita pelo Banco do Estado. É ignóbil!).
"Vendo-a por 625 Euro". disse de repente.
Fiquei perplexo.
O diabinho Judaico no meu ombro esquerdo berrou-me: «aproveita! aproveita! Ele não sabe a cotação diária do ouro! Ele deve dar crédito ao Manual de numismática dos tótós do Banco de Portugal" (para quem não sabe este manual é para o moderno comercio de metais preciosos o que o Borda d'agua é para a Meteorologia). Aceitei imediatamente.
Vi-o então, ao manual! Era mesmo verdade. Do meio dos seus milhentos papeis lá veio o tal manual de numismática do Banco de Portugal. Quase tive uma erecção.
"Hum! Hum!" grunhiu. "Aqui diz que o Kruggerrand vale 750 Euros na Venda".
"Palhaços" ri para mim próprio. E disse-lhe "Olhe que ali na [sítio do costume] um Kruggerrand são 660 Euro." Especulei depois: "É que esse Manual olha para as moedas de um ponto de vista numismático. Possivelmente esse valor é o da versão "Proof" dos Kruggerrands.
O homem pousou os óculos e olhou-me por instantes.
"Meu caro senhor: eu propus-lhe um preço de venda de 625 Euro e como sou um homem de palavra, mantenho-a. Acabou de fazer um excelente negócio".
Senti-me um porco capitalista. Note-se que nesse preciso momento, em Londres, vendia-se 1 onça de ouro a 603 Euro. Estava possivelmente a comprar ao preço que os grandes retalhistas compram (com efeito, verifiquei depois, a Kitco.com a essa hora: estava a vender a mesma moeda a 620 Euro - fora despesas de envio do correio!). Oinc-Oinc.
"O senhor também fez um bom negócio (o que até é verdade - veja-se a evolução do preço de há dois anos para cá). Acabou de ganhar um cliente. Estou de facto interessado em comprar moedas de prata e já sei onde as virei buscar".
Só havia um senão: como disse, não vendia ouro e a moeda estava no seu cofre pessoal no banco. Tinha de falar com o filho, ir buscá-la e trazê-la para a loja. Isso significava que eu só teria a moeda na 5ª feira - hoje, dia 27. E havia mais: o filho queria dinheiro vivo, não cheques. Ou seja, teria de ir ao meu banco à hora do almoço levantar 625 Euro e ir até á Baixa com essa linda quantia a pesar-me no bolso para, em seguida, dirigir-me ao balcão, na outra ponta da cidade, onde se encontra o meu próprio cofre bancário a fim de a depositar.
É óbvio que esta história do cheque em vez do dinheiro vivo era conversa de treta, mas absolutamente compreensível para um numismático. Aceitei, claro.
E assim, hoje juntei mais uma menina para o meu PPR.
Pormenor divertido: com estas andanças - de taxi, claro - entre os balcões do Banco, a Baixa e o trabalho acabei por perceber, feitas as contas, que a moeda me acabou por ficar por 648 Euro. Se tivesse ido ao sítio do costume e supondo que receberia o meu desconto habitual de 10 Euro teria gasto 650 Euro e tido uma viajem de ida descansada.
Deus não dorme.
O sítio merece descrição: formigando por incontáveis prateleiras de vidro, estantes e recantos viam-se moedas antigas e recentes do planeta inteiro. Havia também fotografias a preto-e-branco com imagens antigas e uma extraordinária colecção de fotos de pretéritas equipas do Sporting (bem como de equipas estrangeiras de futebol).
Dir-se-ia ter aterrado em 1935.
Então, no interior deste depósito de coisas velhas vi o vendedor, o qual, lia entretido o jornal na pose sentada de quem, pareceu-me durante um fugaz segundo, se alivia na sanita de casa.
Afinal era um banquinho minusculo que o apoiava. Levantou-se.
"Boa tarde. Tem Kruggerrands?" disse, procurando dar aos meus lábios o melhor som afrikander que ouvi no ficheiro sonoro da Wikipedia.
"Anh?" disse este abrindo muito os olhos.
Claro. Lá conseguiu perceber depois o que eu desejava. Mas não vendia ouro, só prata. Disse-lhe que apenas estava interessado na prata propriamente dita e não em numismática. Ele sorriu e disse-me ter bullion coins americanas e mexicanas, usou mesmo a expressão em inglês. Afinal era apenas um pouco surdo.
Quando eu me preparava para pedir para ver algumas ele disse-me que podia-me arranjar um Kruggerrand. Contou-me então ter oferecido uma ao filho, há dois ou três anos, mas que ele «não queria saber» e que lhe estava sempre a pedir para a vender».
"Trabalha num banco, sabe".
"Pois." Eu estava ver o filme todo: "o ouro é uma relíquia para velhos tontos e sovinas". "O que está a dar é crédito, crédito, crédito". "Faça um PPR que é ao mesmo tempo um cartão de crédito" (Este produto é fantástico. clicar aqui para ver esta aberração de usura. E feita pelo Banco do Estado. É ignóbil!).
"Vendo-a por 625 Euro". disse de repente.
Fiquei perplexo.
O diabinho Judaico no meu ombro esquerdo berrou-me: «aproveita! aproveita! Ele não sabe a cotação diária do ouro! Ele deve dar crédito ao Manual de numismática dos tótós do Banco de Portugal" (para quem não sabe este manual é para o moderno comercio de metais preciosos o que o Borda d'agua é para a Meteorologia). Aceitei imediatamente.
Vi-o então, ao manual! Era mesmo verdade. Do meio dos seus milhentos papeis lá veio o tal manual de numismática do Banco de Portugal. Quase tive uma erecção.
"Hum! Hum!" grunhiu. "Aqui diz que o Kruggerrand vale 750 Euros na Venda".
"Palhaços" ri para mim próprio. E disse-lhe "Olhe que ali na [sítio do costume] um Kruggerrand são 660 Euro." Especulei depois: "É que esse Manual olha para as moedas de um ponto de vista numismático. Possivelmente esse valor é o da versão "Proof" dos Kruggerrands.
O homem pousou os óculos e olhou-me por instantes.
"Meu caro senhor: eu propus-lhe um preço de venda de 625 Euro e como sou um homem de palavra, mantenho-a. Acabou de fazer um excelente negócio".
Senti-me um porco capitalista. Note-se que nesse preciso momento, em Londres, vendia-se 1 onça de ouro a 603 Euro. Estava possivelmente a comprar ao preço que os grandes retalhistas compram (com efeito, verifiquei depois, a Kitco.com a essa hora: estava a vender a mesma moeda a 620 Euro - fora despesas de envio do correio!). Oinc-Oinc.
"O senhor também fez um bom negócio (o que até é verdade - veja-se a evolução do preço de há dois anos para cá). Acabou de ganhar um cliente. Estou de facto interessado em comprar moedas de prata e já sei onde as virei buscar".
Só havia um senão: como disse, não vendia ouro e a moeda estava no seu cofre pessoal no banco. Tinha de falar com o filho, ir buscá-la e trazê-la para a loja. Isso significava que eu só teria a moeda na 5ª feira - hoje, dia 27. E havia mais: o filho queria dinheiro vivo, não cheques. Ou seja, teria de ir ao meu banco à hora do almoço levantar 625 Euro e ir até á Baixa com essa linda quantia a pesar-me no bolso para, em seguida, dirigir-me ao balcão, na outra ponta da cidade, onde se encontra o meu próprio cofre bancário a fim de a depositar.
É óbvio que esta história do cheque em vez do dinheiro vivo era conversa de treta, mas absolutamente compreensível para um numismático. Aceitei, claro.
E assim, hoje juntei mais uma menina para o meu PPR.
Pormenor divertido: com estas andanças - de taxi, claro - entre os balcões do Banco, a Baixa e o trabalho acabei por perceber, feitas as contas, que a moeda me acabou por ficar por 648 Euro. Se tivesse ido ao sítio do costume e supondo que receberia o meu desconto habitual de 10 Euro teria gasto 650 Euro e tido uma viajem de ida descansada.
Deus não dorme.
1 comentário:
Óinc óinc!
Um dia serás um velho capitalista e saltarão moedas de ouro das tuas orelhas. Só tenho pena de não ter feito mais vezes companhia nesses percursos, quando essas preciosidades tinham preços mais aceitáveis.
Beijos
M.
Enviar um comentário