O título deste post, plageado do título de um livro de Cunha Leal, publicado em 1964 e relativo às intenções do Governo de então em relação ao ex-Ultramar, serve como uma luva para descrever a presente atitude dos governos mundiais - e respectivas sociedades - em relação áquilo a que chamo (à falta de melhor) "O que aí vem".
"O que aí vem" é, sucintamente, o colapso daquilo a que nos temos habituado a encarar como (igualmente à falta de melhor) o "mundo moderno". Não sei se o colapso virá daqui a um ano ou dez. Nem sei se a sua fase aguda terá um impacto imediato ou se se arrastará por um tempo mais ou menos longo. Aliás, como aconteceu com o Império Romano do Ocidente, as luzes podem até extinguir-se de todo, só voltando a reacender-se no milénio seguinde e aos poucos. Calculo, porém, que a vida fácil da 2ª metade do século XX e início do XXI - sim; apesar de tudo - acabou e não voltará mais.
Os sinais estão aí para quem os quer ver. Ao longe, no telejornal nacional chegam ecos distorcidos de problemas "lá fora"; há o Bin Laden e o seu franchising de patifarias; um desassossego geral no terceiro mundo e dificuldades no dia-a-dia. "A vida está cada vez mais cara" oiço dizer em conversas com colegas meus do ganha-pão e em mails de amigos em terras exóticas. Nas televisões estrangeiras os problemas estão mais visíveis e são dissecados com maior profundidade, é verdade; e existem websites (alguns com links na cabine) que mostram a nudez assustadora da crise que aí vem. De um modo geral, todavia, muita gente continua a confundir causa com consequência, o que é muito mau tendo em conta que tempos de turbulência requerem análises certeiras.
Os sinais estão aí para quem os quer ver. Ao longe, no telejornal nacional chegam ecos distorcidos de problemas "lá fora"; há o Bin Laden e o seu franchising de patifarias; um desassossego geral no terceiro mundo e dificuldades no dia-a-dia. "A vida está cada vez mais cara" oiço dizer em conversas com colegas meus do ganha-pão e em mails de amigos em terras exóticas. Nas televisões estrangeiras os problemas estão mais visíveis e são dissecados com maior profundidade, é verdade; e existem websites (alguns com links na cabine) que mostram a nudez assustadora da crise que aí vem. De um modo geral, todavia, muita gente continua a confundir causa com consequência, o que é muito mau tendo em conta que tempos de turbulência requerem análises certeiras.
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O nome deste blog não foi escolhido por acaso, como julgo que acontece com a maioria dos seres da blogosfera. De facto, acho que a actual sociedade é bastante parecida com o Titanic na sua uníca viagem: um milagre técnico, com condições de vida a bordo nunca antes atingidas - mesmo na 3ª classe - e universalmente considerado invulnerável. Assim vai este mundo. A crise ambiental? Todos a lamentam como antigamente se lamentava a existência de povos pagãos: "há-de se resolver isso com penitências e missionários". A crise política? "dêem-lhes tolerância, que as diferenças diluêm-se". A crise financeira? "baixem os juros (ou seja, imprimam dinheiro) para as pessoas continuarem a comprar coisas (ou seja, endividando-se mais e mais)".
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Há-de de chegar o Iceberg. E quando chegar as pessoas hão-de passar o primeiro dia a brincar no gelo tombado sobre o convés. Creio nisto como muitas pessoas crêem, por exemplo, na 2ª vinda de Cristo.
Esse Iceberg tem um nome: pico petrolífero. Em torno deste Titanic planetário, enormes blocos enchem as águas ainda há pouco tempo limpas. Já estamos, portanto, perto da área de embate: a gasolina não pára de subir nas bombas. E, por arrasto, tudo aquilo que directa ou indirectamente depende do petróleo, desde o pão e bilhetes de autocarro a aspirinas e água potável, sobe. Curiosamente certos itens vêm o seu valor cair: casas à venda e o dinheiro que temos na carteira não param de perder valor.
A reacção das pessoas que vejo todos os dias relativamente a esta subida é um bom exemplo da cegueira reinante, como disse. Não é que eu julgue saber mais do que quem quer que seja; afinal a informação está disponível para todos. O que me custa é aperceber-me que muita gente está a confundir causa e efeito; na altura do embate propriamente dito pode fazer toda a diferença discernir a fonte do problema de modo a conseguir colocar o maior número de pessoas possíveis nos botes salva-vidas. Disso, depende afinal a viabilidade para continuar a ser possível um modo de vida civilizado (o que não inclui apenas ausência de selvajaria, mas também hospitais, eleições e Estdo de direito).
Esse Iceberg tem um nome: pico petrolífero. Em torno deste Titanic planetário, enormes blocos enchem as águas ainda há pouco tempo limpas. Já estamos, portanto, perto da área de embate: a gasolina não pára de subir nas bombas. E, por arrasto, tudo aquilo que directa ou indirectamente depende do petróleo, desde o pão e bilhetes de autocarro a aspirinas e água potável, sobe. Curiosamente certos itens vêm o seu valor cair: casas à venda e o dinheiro que temos na carteira não param de perder valor.
A reacção das pessoas que vejo todos os dias relativamente a esta subida é um bom exemplo da cegueira reinante, como disse. Não é que eu julgue saber mais do que quem quer que seja; afinal a informação está disponível para todos. O que me custa é aperceber-me que muita gente está a confundir causa e efeito; na altura do embate propriamente dito pode fazer toda a diferença discernir a fonte do problema de modo a conseguir colocar o maior número de pessoas possíveis nos botes salva-vidas. Disso, depende afinal a viabilidade para continuar a ser possível um modo de vida civilizado (o que não inclui apenas ausência de selvajaria, mas também hospitais, eleições e Estdo de direito).
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Ontem ou anteontem estava a caminho do ganha-pão e ouvi na Rádio um ouvinte comentar dever-se a subida do custo de vida "às especulações dos fundos [de investimento]". Sem dúvida que a fuga de capitais para as matérias-primas, provocada pelos primeiros icebergs (a queda do mercado imobiliário) provocou a subida do preço dos produtos finais. Afinal, a maneira mais fácil de escapar a uma bolha especulativa é criar outra bolha especulativa onde o capital se possa refugiar (à maneira das pragas de gafanhotos). Infelizmente, para o ouvinte esta era a única fonte da subida dos preços. Não foi a primeira vez que ouvi esta ideia. Também nos jornais e nos taxistas, começa a tornar-se sabedoria convencional a ideia de que "os especuladores e os bancos" (odiados por causa do preço das prestações das casas) estão por detrás da carestia de vida.
As pessoas (isto é, a classe média) parecem esquecer-se - ou ignorar - que os fundos de pensões, aplicações de poupança e os empréstimos das casas floresceram durante os anos 90 precisamente a seu pedido. Quem aluga casa? "Isso é para os pobres"; Quem pediu aos governos descontos fiscais a troco de PPR's? "Os que neles votaram". Quem foi de avião para as Seychelles montado num cartão de crédito? "Muito boa gente que, a pronto, nem dinheiro tinha para umas férias no Algarve".
Obviamente que os bancos e demais instituições financeiras têm de aplicar capital em algum sítio para financiarem toda a dependência consumista do cidadão comum. Até Agosto de 2007 foi o imobiliário; agora "futuros" de petróleo, gás natural, trigo e ouro. E como precisam de ganhar dinheiro tendem a vender mais caro o que compraram barato.
Mas a fonte do problema é outra. Paralelamente a este ruído de fundo quase não passa uma semana em que não é descoberta "mais uma jazida petrolífera". Até ao largo de Peniche já se fazem sondagens! Estas notícias são o som das petrolíferas a "rasparem o fundo do tacho planetário". No mundo actual as grandes jazidas de sweet crude em terra firme estão esgotadas. E não há outras. Há apenas petróleo em sítios ou de dificil acesso (em alto mar e nos Polos), ou de fraca qualidade (demasiado enxofre, demasiada água, demasiado cascalho) ou as duas coisas. Consequentemente, o preço não pode baixar, ainda que os fundos de investimento não comprem uma gota de crude. É uma razão geológica que impede que os preços desçam através do aumento da oferta, à qual, se junta uma razão financeira que impede por sua vez que a procura diminua por muito má que a economia esteja. Estamos pois entalados entre o fogo e a frigideira.
As pessoas (isto é, a classe média) parecem esquecer-se - ou ignorar - que os fundos de pensões, aplicações de poupança e os empréstimos das casas floresceram durante os anos 90 precisamente a seu pedido. Quem aluga casa? "Isso é para os pobres"; Quem pediu aos governos descontos fiscais a troco de PPR's? "Os que neles votaram". Quem foi de avião para as Seychelles montado num cartão de crédito? "Muito boa gente que, a pronto, nem dinheiro tinha para umas férias no Algarve".
Obviamente que os bancos e demais instituições financeiras têm de aplicar capital em algum sítio para financiarem toda a dependência consumista do cidadão comum. Até Agosto de 2007 foi o imobiliário; agora "futuros" de petróleo, gás natural, trigo e ouro. E como precisam de ganhar dinheiro tendem a vender mais caro o que compraram barato.
Mas a fonte do problema é outra. Paralelamente a este ruído de fundo quase não passa uma semana em que não é descoberta "mais uma jazida petrolífera". Até ao largo de Peniche já se fazem sondagens! Estas notícias são o som das petrolíferas a "rasparem o fundo do tacho planetário". No mundo actual as grandes jazidas de sweet crude em terra firme estão esgotadas. E não há outras. Há apenas petróleo em sítios ou de dificil acesso (em alto mar e nos Polos), ou de fraca qualidade (demasiado enxofre, demasiada água, demasiado cascalho) ou as duas coisas. Consequentemente, o preço não pode baixar, ainda que os fundos de investimento não comprem uma gota de crude. É uma razão geológica que impede que os preços desçam através do aumento da oferta, à qual, se junta uma razão financeira que impede por sua vez que a procura diminua por muito má que a economia esteja. Estamos pois entalados entre o fogo e a frigideira.
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Chegámos à questão. Nos últimos, digamos, trinta anos, tomou-se consciência de que os recursos ambientais se estão a esgotar. Esta tomada de consciência é patente na ascenção da ideologia ambientalista, a qual, substituiu a crença no amanhã socialista na cabeça de muita gente. Mas até aqui, quando extremista, era apenas uma forma de demonstrar superioridade moral à falta de um Deus cristão. Agora, porém, sente-se na carteira e na constante diminuição da terra arável, a crise profunda em que o meio ambiente caiu. Motivo: se até aqui o Ocidente explorava quase sozinho os recursos do planeta, agora (a partir dos anos 90) largas porções de humanidade como a China, a India, a América Latina, e até alguma parte da África começam a vislumbrar ser possível atingir o nosso nivel de vida. Infelizmente o planeta é só um. E portanto, pela lei da oferta e da procura, o preço das "coisas disponíveis", aumenta. É uma trágica inevitabilidade. Tão inevitável como o Iceberg que afundou o Titanic.
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E a Pátria? Que pensará a nossa elite de tudo isto?
Parece que Luís Filipe Menezes caiu. Aléluia! Comentário de um alto-quadro do PSD (cujo nome infelizmente não consegui apanhar - se alguém souber diga-me):
"Se eu estou preocupado com demoras em aparecerem candidatos [à liderança do partido] capazes? Eu espero que todos se entendam até Junho. Não nos podemos esquecer que em Junho começa o campeonato Europeu de futebol e temos todos de estar unidos para apoiar a selecção".
Parece que Luís Filipe Menezes caiu. Aléluia! Comentário de um alto-quadro do PSD (cujo nome infelizmente não consegui apanhar - se alguém souber diga-me):
"Se eu estou preocupado com demoras em aparecerem candidatos [à liderança do partido] capazes? Eu espero que todos se entendam até Junho. Não nos podemos esquecer que em Junho começa o campeonato Europeu de futebol e temos todos de estar unidos para apoiar a selecção".
Lembrem-se: é gente deste calibre que nos irá governar durante a crise que aí vem.
1 comentário:
Brilhante, como é costume.
É tão bom ler-te como falar contigo.
Lamento não ser um desconhecido mas é o que se arranja. Não percas a esperança nas fotos
Bjs
M.
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