sábado, 24 de maio de 2008

Obama: um retrato

As "primárias" democratas de 2008 que vão escolher - tudo indica - o próximo presidente dos Estados Unidos ganharam já o seu lugar na história.
É pena que a cor do meu candidato preferido, Barak Obama, sobressaia como uma montanha alpina numa planície deserta, distraindo o público, americano e não só, das importantes questões que urgiam estarem a ser tratadas. Por vezes, ao ouvir opiniões sobre estas primárias parece que a sua importãncia advém mais dessa característica do que da necessidade dos Americanos despedirem com um valente pontapé no rabo a elite apodrecida que governa o Império (e à qual Hillary Clinton pertence por direito próprio).
É, porém, forçoso tratar o assunto, pois, como não podia deixar de ser, o facto de não ser branco (ou completamente branco) é um facto político, goste-se ou não.
A América é o país do one drop rule, a mais estúpida noção que uma sociedade poderia ter concebido e cuja perversa influência, na América, se faz sentir da mais nazi direita à mais "revolucionária" esquerda (através dos miasmáticos identity studies, sobretudo). É, afina,l o país que considera negra a correspondente da CNN na Casa Branca Suzanne M. Malveaux, e está tudo dito. O facto de ter aparecido neste contexto, um candidato viável que não é branco à presidência é, só por si, uma mudança radical.
Não querendo desfazer, todavia, na influência que a genética terá tido na sua carreira política (ele não é Republicano, certo?), bem como a realidade das relações raciais na América dos anos 70 e 80 onde cresceu (ele não é Republicano, repito), alerto para o facto de os seus antepassados negros não terem vindo no porão de carga de um navio negreiro. Obama é um afro-americano genuíno, um mestiço Kansas-queniano que cresceu entre Jakarta e Honolulo. Onde está a plantação sulista, o ghetto de Detroit ou de Los Angeles na sua história? Não estão. Este pormenor, no que diz respeito áqueles que afirmam ser o seu sucesso o resultado da melhoria do estatuto dos negros na América, é um angulo que ainda não vi abordado. Talvez seja um pormenor, é verdade, porém a sua peculiar história de vida é cheia de características bem pouco americanas e sobretudo bem pouco negro-americanas, a começar pelo mal disfarçado meio ateu (pai e mãe e depois padrasto) em que foi criado e a terminar no percurso internacional da sua infância e juventude. O homem é tudo menos um padrão estatístico, de facto.
Este é pois o seu background. Comparando-o com o da detestável Sr.ª Clinton é, em minha opinião, quase uma razão - se fosse americano - para votar nele. Mas há outras. É precisamente nessas outras razões que penso ser Obama o mais indicado candidato para ocupar a Casa Branca sobretudo quando estamos a entrar num periodo particularmente turbulento da história da humanidade. Tanto McCain (um sujeito com o qual até simpatizo) como a horrivel Srª Clinton representam o passado. Não sei se Barack Obama representa o futuro, no sentido em que não sei até que ponto está consciente dos problemas do "pico petrolífero" e do aquecimento global (embora já tenha dado bons sinais, como aconteceu em Portland), mas não me parece ser nem um monstro de ambição (Hillary - a outra candidata viável) ou um irresponsável (Bush II - o imperador cessante). A ver vamos.

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