segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sic transit gloria mundi - reflexões de uma Cassandra

Quem me conhece sabe que sou uma Cassandra sempre a esperar o pior das coisas do mundo. No início de 2008 (seis meses antes da morte da Lehman Brothers, LLC) postei algumas profecias em relação à possibilidade de um Armagedão financeiro resultante da excessiva "alavancagem" (como agora se diz) da economia e da chegada ao topo da produção máxima de petróleo possível (peak oil). Para Portugal, periférico, excessivamente endividado e completamente dependente do petróleo (dêem-lhes bolos, estádios e auto-estradas...) a situação é catastrófica, sobretudo quando necessitamos de emendar os erros do passado. Lembro-me também de ter avisado relativamente à possibilidade dos engenheiros do nosso desastre estarem agora ao leme (post "Ilusões Macabras") e que isso seria o pior que nos podia acontecer pois criaturas como o Prof. Cavaco Silva ou o Eng. Guterres (acreditem: ele vai-se candidatar a PR em 2014-15) são parte do problema, não a solução. Pior: acho que nem sequer conseguem compreender muito a situação. É preciso, pois, esquecer essas personagens que por aí andam e tentar perceber o que tem de ser salvo a todo o custo e o que tem de ser sacrificado. Por outras palavras ou os portugueses tomam o destino nas mãos ou estão tramados. E não me refiro apenas a eleições, mas também ao próprio sustento e à defesa da Europa, na qual estamos inseridos. O Estado Português tornou-se largamente irrelevante.
Portugal é uma região da Europa e o resto é conversa. É muito giro o passado, mas o mundo já não é povoado por selvagens pitorescos e pelos nossos impérios, portanto ou os Europeus se unem e defendem a sua soberania ou estão tramados. E há muita gente por esse mundo fora que nos quer tramar. O Euro é a soberania económica da Europa e por conseguinte da nação Portuguesa também (esqueçam o Estado Português). Dado que as divisas de cada Estado não são mais que o reflexo da força e percepção da viabilidade desse Estado pelo resto do mundo, um Euro forte e estável corresponde também a uma Europa forte e estável. O que eu quero dizer com isto é que as diferenças e divisões internas entre as nações e povos da Europa discutem-se entre portas; se nos dividirmos como diabo poderemos enfrentar nações como a Rússia, Índia, China ou os EUA? Às vezes oiço as pessoas dizerem que "a Europa não pode ser unificada por causa das nossas diferenças". Está tudo doido? Então e como é que Portugal pode enfrentar, sozinho, os gigantes atrás mencionados? Com "patriotismo" e peitinho aberto? 
Urge, pois, que os portugueses na União Europeia façam os possíveis para tornar a Europa numa federação como os... como o Canadá (para não magoar esquerdistas sensíveis e reaccionários patarecos). Nisso o Mário Soares tem toda a razão. E não temos que ir para Bruxelas como pedintes. Somos membros de pleno direito e tudo o que contribua para não deixar passar a ideia da "Europa a duas velocidades" é bem vindo.
Entretanto temos de estar alerta para algumas vozes que se têm levantado em relação à possibilidade de abandonarmos o Euro, ou de sermos expulsos, o que vem dar no mesmo. Tenho ouvido dizer, de alguns senhores, que isso seria bom "por causa da competitividade". Os portugueses têm de ter cuidado com gente dessa. Muito deles têm Euros em contas no exterior e a maior parte participou e participa no saque centenário aos recursos portugueses. Os seus conselhos são enganosos: trata-se de uma gente aleivosa que gosta de mão de obra barata. Imagine-se o que seria Portugal sair do Euro por uns momentos... Imaginem o que seria os Portugueses perderem uma moeda mais forte do que o dólar e verem-se na posse de algo com valor igual ao Peso argentino, digamos. De um momento para o outro as nossas contas bancárias perderiam metade do valor (ou mais) pois o Euro seria activamente procurado cá dentro, e sobretudo lá fora, agora que economias como a Portuguesa ou a Grega não seriam "pesos-mortos" na moeda única.
E imaginem depois o Estado português a tentar comprar petróleo e outras matérias primas no exterior com escudos. Seria, claro obrigado a desvalorizar ainda mais a moeda e a vender o ouro português (o nosso maior trunfo). Cuidado com aqueles que clamam contra o Euro, repito! Suspeito que muitos deles são os mesmos que aqui há umas décadas atrás tinham dólares e marcos na Suíça, enquanto o povo trabalhava nas fábricas do Barreiro e as criadas usavam fardas pretas. Ou os seus descendentes espirituais.
(c) Imagens: Robson Lelis (clown); António Jorge Gonçalves (Euro);

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