quarta-feira, 28 de março de 2012

GUERRA IRÃ / IRÃO na Wikipedia ou o triunfo da ignorância

Esta questão Irã/Irão é interessante porque torna claro duas coisas, ambas ligadas à necessidade de recusar, ou pelo menos rever, o Acordo Ortográfico: a etimologia das palavras é importante; uma sociedade que prefere a “vontade da maioria” ao conhecimento da história está condenada à ignorância. Passo a explicar:

A razão de escrevermos Irão deve-se ao facto de em Persa o sufixo "stan" indicar “território/país de”. É também por essa razão que escrevemos Turquemenistão, Cazaquistão, etc. mas não, por exemplo “Brasílistão”. Todos esses países asiáticos foram, em tempos, regiões de influência persa e consequentemente as línguas europeias adotaram estes nomes.

Peço aos leitores deste post que vão ao Google e busquem “Turquemenistã”, por exemplo. Não vão encontrar nada. Ou então vão ao site www.Brasil escola.com (site privado de educação). Os brasileiros usam também a palavra “Turquemenistão”! É curioso, não é? Mas porquê? Não deveriam logicamente escrever e dizer “Turquemenistã”, uma vez que o fazem para o Irão? Ignoro a verdadeira razão disto ser assim mas tenho uma teoria. Até à revolução iraniana a palavra “Pérsia” era usada para descrever o país em questão. Ora, quando os Aiatolas tomaram o poder mudaram o nome para uma palavra que em Inglês se traduz como “Iran”. Nas televisões e nos jornais brasileiros da altura – quase que posso jurar – a palavra inglesa deve ter sido traduzida segundo o som, ficando “Irã”, em vez de terem seguido a correta etimologia e escrito / dito “Irão”. Enfim… jornalistas. Não são propriamente as mais pensadoras criaturas do universo, pois não? Curiosamente quando a URSS implodiu e um cardume de “stans” saltou para a independência esta “norma” não foi seguida. Também não sei porquê mas julgo que os deuses da ignorância, que como sabemos são caprichosos, devem ter achado que esses países tinham todos nomes terminados em “ão”, “porque sim” e Turquemenistão, etc. acabaram escritos em português correto. Puro acaso.


É o que dá ligar às maiorias. As maiorias não sabem nada. São cegos guiados por cegos. Perdem-se no caminho e têm caprichos se não forem ajudados e corrigidos por quem tem responsabilidades. Daí ser melhor seguir normas do que modas. Daí ser melhor perguntar primeiro à História a razão de ser de certas coisas. Só depois – depois, repito – perguntar aos linguistas como as devemos escrever: é que alguns deles acham que o mundo nasceu em 1968. E nunca – mas nunca, peço-vos – deixar aos jornalistas que não passam de vendedores de papel, o poder de nomear as coisas. Esses julgam que o mundo nasceu ontem, antes do Telejornal. Infelizmente, vejo-os assim...

Devo finalmente dizer que o Brasil tem todo o direito de chamar “Irã” ao Irão. É um país soberano e governados por adultos. Portugal também. Nós portugueses temos o dever de conhecer a etimologia das palavras e defender o seu uso correto. Uma língua não é um Carnaval de sons, como ouvi alguém dizer uma vez na FLUL. Isso, quando muito é música para os ouvidos e baile para a consciência dado por quem julga que nós somos todos parvos e engolimos as trapaças do multiculturalismo. Uma língua é uma forma de transmitirmos pensamentos acumulados ao longo de gerações e isso não pode estar sujeito a modas porque senão não entendemos o porquê das coisas.


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