domingo, 23 de março de 2008

Back on Earth

Sempre tive a sensação de que existe alguma semelhança entre os últimos momentos de Domingo e os ultimos momentos do condenado na sua cela antes de ser chamado pelo carrasco.
Estas férias da Páscoa foram, de facto, as melhores dos últimos anos, o que realça a sensação de fim de festa. A companhia dos meus primos fez a diferença e serviu, como se fosse necessário, para mostrar como a minha situação poderia ser melhor se já tivesse acontecido aquilo porque tanto anseio. Por vezes a parede de vidro entre o que a minha vida é e o que a minha vida poderia ser parece desmesuradamente fina: quando terei o meu 25 de Abril?
Deixando as divagações, três acontecimentos se destacam: aprendi a jogar mah-jong, tirei fotografias fantásticas do Sábado de Aleluia e por alguns momentos - sobretudo durante a expedição a Valencia de Alcantara - o tempo pareceu suspenso e o meu espírito teve alguma paz. Só faltou nevar para a coisa ficar perfeita. Que pena, aliás, não termos tido mais um ou dois dias: sem dúvida que acabariamos por ter ido à Serra da Estrela.

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Entretanto continuo a ler o livro do Estaline. Por coincidência, as férias do homem durante o início dos anos 30 calharam ser tratadas nos capítulos lidos. É de ficar perplexo com a descrição que o autor faz das temporadas de férias do tirano com a sua corte. Dir-se-ia mesmo uma verdadeira corte de um soberano do século XVII ou XVIII com as suas intrigas, potentados e joie-de-vivre. A Versailles de Luís XIV veio-me várias vezes à lembrança, mas numa versão mais casta e comedida, ainda que incoparavelmente mais tenebrosa. Na realidade não deveria ficar surpreendido: é a ideologia dominante que atirou para uma realidade não-humana a figura desse monstro do século XX; primeiro elevando-o como se fosse um Deus na Terra; depois como a razão de ser de todos os erros da esquerda. Dirijo-me agora para a época do Terror, veremos o que acontece. Estou especialmente curioso para ver como o autor interpreta o golpe dado pelo tirano no Exercito vermelho e as suas consequências no primeiro ano de guerra com a Alemanha. Entretanto o desprendimento da corte em relação ao sofrimento do povo que deveria servir continua a chocar a cada página: como é possível afirmarem - e acreditarem - pertencer ao governo mais justo da história e ao mesmo tempo mandar matar milhões de pessoas à fome? Os Nazis pelo menos sabiam o que estavam a fazer. Como é possivel não reparar? E mais grave: como era possivel, tanta e tanta gente no Ocidente, não perceber a terrivel realidade daquela ilusão? Uma vez mais constato ser o desejo de virtude e de justiça apenas mais um atalho para o mal fazer o seu trabalho. A soberba da Hubrys tem como a Hidra, mil cabeças.

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Resta-me tentar perceber como se faz o upload dos vídeos e qual o limite dos mesmos. Espero especialmente poder disponibilizar o video de 4 minutos tirado durante a procissão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que bom quando ainda conseguimos tirar prazer de coisas tão simples da vida. Reviver este momento vinte e tal anos depois foi ser criança de novo; reportar-me para aqueles q guardo ainda como os melhores momentos da minha vida: as férias em Castelo de Vide. Q bom ter alguém com quem partilhar isso.