quarta-feira, 26 de março de 2008

Outros futebóis

Jogo na Ameixoeira com os Lusitanos F.C.
Desta vez a minha prima J. também foi e mostrou serviço! Em relação ao jogo tudo correu bem. A minha equipa conseguiu vencer: 6-5. Claro que venho todo partido e amanhã já sei que não me vou conseguir mexer... Mas vale sempre a pena até porque o jogo correu-me bem e fiz boas defesas. Recebi também um convite do Prof. E. para participar no Dicionário que ele está a preparar, ainda que a nível fotográfico: mas é um começo... acho o projecto dele bastante interessante. Estou à espera do mail da S. com mais pormenores mas já penso ir, neste fim-de-semana, bater à porta do Mosteiro pós-moderno que fica aqui ao pé de casa para tirar umas fotos.
Quanto a outros jogos, desenrolados paralelamente a este, fiquei com a impressão de ter passado por uma experiência parecida, salvas as diferenças, com a narrada pela Equity Private neste post.
É extraordinária, de facto, a força da incompetência!... Eu já tinha a proverbial pulga atrás da orelha em relação à coisa quando senti as propostas sucederem-se umas atrás das outras numa mutação bizarra; quando recebi o resumo e vi no que realmente consistia, as minhas desconfianças transformaram-se em certezas. Uma pergunta impõem-se: como é possível ser assim - basta o nível do português em que está escrito para eriçar os cabelos da nuca - e obter um grau académico?
Novamente se confirma a minha teoria de ser a Universidade apenas a continuação do ensino Secundário; um mero carimbo mais na tramitação burocrática do adolescente para adulto. Esqueça-se a noção de ponto de partida para a criação do conhecimento. Estamos perante a consequência lógica de um ensino em que acontece aquilo que foi descrito no post anterior: no Secundário leva-se o telemovel para a aula e agride-se o «stôr», na Universidade concebem-se mediocridades e «esquemas» (para usar um eufemismo). É pena. Mas acima de tudo é um desperdício de recursos. E à tanta gente perdida por essas salas de aula à espera de uma oportunidade...
Telefonei depois do jogo para pedir "esclarecimentos" e procurar uma saída airosa. Infelizmente do outro lado tentou-se salvar a aparência da coisa. Foi pior a emenda que o soneto:
Eu, afinal, já não ia fazer a parte "a". Agora ia fazer a parte "c". Contando com esta, era já a quarta ou quinta mudança. Infelizmente, a «metodologia» requerida [sic] (o método não era definido por mim que ia investigar e escrever, mas sim por ele, forçado - claro - pelo patrocinador, um remoto deo ex machina nomeado entretanto) consistia em fazer uma espécie de resumos tirados aqui e acolá e depois compor tudo e assinar por baixo. E ala moço, vamos para o próximo ponto! ah!ah!ah!ah!
A minha reacção perante o amadorismo deste conceito de produção "cientifica" pode ser resumido roubando à Equity P. o que ela sentiu quando os gerentes de vendas da Sinister, LLC lhe apresentaram o Powerpoint que haviam preparado para os investidores de Wall Street:

Oh my god.
I counted to ten in my head. "Breathe," I thought. "There's no need to vomit. Really. That mouth watering you are feeling is just a trick of the brain. Breathe. Breathe."
It pains me to even continue to relate the rest of the conversation.

Felizmente existe o meu Ganha-Pão (Bendito! Bendito! Bendito!) e consegui assim uma desculpa plausivel e até certo ponto verdadeira para bater em retirada deste buraco negro. O resto da conversa foi então inteiramente povoado pela sigla do meu local de trabalho a qual choveu como granizo sobre a argumentação produzida do outro lado do telemovel.

Para finalizar e voltando ao post anterior com o objectivo de aprofundar a ideia de que isto é o resultado do estado do ensino infanto-secundário português tenho a dizer o seguinte:
A moda de reduzir a transmissão de conhecimentos à pedagogia levou a que a verificação da existencia ou não dos mesmos fosse desprezada como «opressora» e «castradora» (não exagero, como bem sabem). É preciso primeiro «aprender a aprender», depois - e como até «todas as opinião são dignas de respeito» - logo se vê...
Sucede estarmos numa era repleta de emissores de informação bruta cuja intensidade se transforma muitas vezes num ruído indestinto. Esgravatar na imensidão à procura de pepitas é uma tarefa imensa, inibidora, por vezes, do juízo crítico necessário à produção cientifica mas cujo resultado final separa, afinal, os rapazes dos homens. Deste modo, o facilitismo no ensino secundário, resultado ele próprio da necessidade de mostrar estatisticas ao povo votante, e continuado no ensino Superior (esmagado pelas mesmas razões), esbarra na severidade da exigência cientifica, como uma corrente fluvial nas vagas do Oceano.
É por isso que a «proposta» que recebi é tão parecida com um trabalho do ensino Secundário (eu disse-lhe de licenciatura, para ser meigo, descansem). Ela só podia ser isso, o seu autor foi treinado apenas para isso. Pior: ele queria que eu também fizesse uma coisa assim (por causa do tempo e do patrocinador, gemia - não ousei dizer-lhe que não era o tempo que era curto, era o âmbito que era vago, enfim...).
E eu sei do que falo porque já dei aulas no Secundário e os melhores trabalhos das minhas melhores alunas (a Ana e a Catarina do 8º H em Manique) encontravam-se ao mesmo nível.

Eles não têem educação? Dêem-lhes pedagogia!

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