quinta-feira, 12 de junho de 2008

O Estado vulnerável e a primeira vítima

Era de prever. Curiosamente aconteceram neste mês de Europeu, talvez por um capricho dos Deuses, por entre o torpor orgasmático de vitórias a brincar. Por um lado temos a primeira vítima mortal portuguesa do "pico petrolífero" e por outro, temos o primeiro ministro, esse pináculo de soberba, confessar ter sentido o "Estado vulnerável". Nem a ASAE lhe valeu, ao que parece.
Não vou aqui esmiuçar o contexto da crise, que muitos persistem em julgar resultado de uma qualquer especulação bolsista dos "ricos" e consequentemente transitória. Não é nem uma coisa nem outra, claro, e o que é pior não parece amanhecer na mente do primeiro ministro que isto vem para ficar e que as cedências feitas aos camionistas são incomportáveis a médio prazo (já agora verifiquem a reacção de Zapatero perante o mesmo problema).

Disse o Sr. Sócrates, no último debate parlamentar quinzenal, que "ninguém poderia prever a subida do preço do petróleo" para os níveis que se verificam hoje.

Ah não? Já não falo nas centenas de livros, artigos de cientistas e até websites dedicados desde o início do século ao tema do "pico petrolífero". Cito, por exemplo, o constante matraquear do petróleo ser um recurso finito que a minha geração sofreu quando este tema era tratado no ensino secundário, sob a rúbrica "meio ambiente". Então não sabia o Sr. Sócrates (um engenheiro!) do carácter finito do mesmo? Ou será que, tal como milhões de outros seres humanos, o Sr. Sócrates acha que isso não tem nada a ver com a actual situação? E a entrada dos consumidores chineses e indianos na equação? Não tocou nenhuma campainha de alarme? E os srs. Deputados porque razão falaram apenas de irrelevâncias neste debate parlamentar? Dr. Louçã: esta é a sua oportunidade! o caos que aí vem será um rico estrume onde poderá medrar a revolução que tanto apregoa.

A mim choca-me olhar para esta gente que nos governa e ver um bando de cegos às apalpadelas.

Não nos esqueçamos que ainda há três meses atrás o tema quente era se deviamos construir um aeroporto gigantesco na Ota ou um grande aeroporto em Alcochete. Lembro-me, aterrado, de ver na RTP1 uma auto-intitulada elite de engenheiros opinar sobre o tema impondo a sua capacidade de prever o futuro como garante da exequibilidade do projecto. Milhões de passageiros em 2010, biliões em 2020, etc, etc, etc. Lembro-me de ter sido gozado por conhecidos e familiares por, na altura, haver sugerido que Tires seria suficiente para os passageiros aéreos em 2020.

Caro leitor: que cenário acha agora plausivel perante o colapso que vemos à nossa volta? Lembro que nesta semana a Portela ficou reduzida ao combustivel para voos de emergencia.

É triste chegar à conclusão que o nossos dirigentes não estão minimamente preparados para lidar com o que aí vem. E é assustador constatar que estando o barril de crude à volta dos 135 dólares já tenha havido uma vítima mortal ficando o Estado (e a sociedade) impotentes para perceber para onde caminhamos. O que acontecerá quando estiver a 180 dólares? E a 250?
Por que razão não se revitalizam, desde já, as linhas de comboios para que possamos passar sem as chantagens dos camionistas? Porque demora tanto tempo o TGV para podermos continuar ligados à Espanha e à Europa? O tempo começa a escassear...

Parece-me que seremos a primeira nação do Ocidente a mergulhar na Idade Média.
Bom... em alguma coisa, para além do futebol, haveriamos de ser os primeiros...

1 comentário:

Anónimo disse...

Vê se quando eu regressar ao outro continente continuas a escrever. Quero estar por lá bem informada sobre o que se passa no canteiro luso.

Bjs