segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mude-se o povo nº1

"Mude-se o povo, se não se pode mudar o governo" disse B. Bercht quando o seu povo o desiludiu pela última vez.
No meu caso, é duro constatar que todos os dias penso nesta frase. Hoje, porém, aconteceu uma coisa no meu ganha-pão que me encheu as medidas. O sujeito - um velho, vejam só - já havia aparecido por ali umas quantos de vezes, sempre com o mesmo pedido. Tentámos fazer os possíveis. Infelizmente o sujeito não tinha a coluna vertebral necessária para pôr o seu pedido por escrito. Pior, despedia-se sempre com estas palavras: "veja lá, não lhes vá contar que eu vim aqui".
Poltrão, como todos os bufos, portanto.
E qual era o seu objectivo? É simples: queria que nós fizessemos o trabalhinho sujo que ele não tinha coragem para fazer.
Dissimulado, como todos os impotentes, concerteza.
Hoje apareceu histérico: o seu problema continuava. Eu pedi-lhe que colocasse tudo por escrito, tentando acabar com a comédia.
Ele insistiu, surdo às minhas palavras. Levantou a voz: insinuou que eu não estava a fazer o meu trabalho como devia de ser! E que este era uma país de merda. E que eu (e o meu ganha-pão) não ligávamos nenhuma aos honestos trabalhadores e protegiamos os gatunos!
Grotesco, como todos os mediocres, afinal.
Acabámos aos gritos; eu ameacei pô-lo na rua, como se fosse um aluno mal comportado. A minha colega chamou o segurança. Ele desatou a chamar-nos nomes do mais denso vernáculo. O segurança pegou-lhe pelos colarinhos e largo-o no exterior com estrondo. Pormenor curioso: estava uma cigana (protagonista de peixeiradas anteriores, mas mais softs) entre os outros clientes presentes. Dizia, abanando a cabeça: esta gente não se sabe comportar!
Acabou sentado no passeio do nosso parque de estacionamento: os meus colegas do andar de cima aproximaram-se dele para o ouvir chamá-los de chulos e coisas semelhantes. Por ali ficou, como um cão enxotado.
Depois chegou a polícia que fez a «ocorrência» e escoltou-o até à saída.

***

Houve um tempo em que eu usava a expressão "entre a esquadra e o bordel" para descrever alguns dos meus clientes. No que me diz respeito, e a partir de hoje, já só falta o bordel.
Que raio de modo de ganhar a vida!...

Sem comentários: